sexta-feira, 8 de março de 2013

Cotado pra cota




por Fabio Batista (Emecê)

Estamos em um momento chave para entender quais espaços devem permanecer como estão e quais devem se modificar para que as coisas assumam outra perspectiva. Aí entra a noção de que nossa perspectiva está por demais viciada e cheia de equívocos e se não tivermos pelo menos a capacidade de admitir isso, danou-se tudo.

Entramos no campo da convivência e tomada de espaços, com a necessidade preemente de grupos historicamente alijados terem os direitos assegurados por um Estado reconhecidamente omisso, tanto institucionalmente quanto politicamente. Ah, todos são iguais perante a lei! Sim, sim, somos!

Assim como existe um princípio de equidade que precisa ser entendido e a partir disso, os movimentos acontecerem para que esse princípio de estabeleça. Explicitando: A equidade é garantir a todos os cidadãos, sem exceção, acesso aos bens, serviços e direitos oferecidos pelo Estado sem travas ou impedimentos. E para que isso isso aconteça, existem vários mecanismos e um dos líderes de audiência são as cotas.

A atenção demasia as cotas foram a partir do momento que se entendia que um dos grupos historicamente alijados, os negros, precisariam ser incluídos no príncipio de equidade. Até porque cotas no Estado Brasileiro existe desde sempre: Seja na política de imigrantes para substituição de mão de obra, lá no século XIX, até a cota para deficientes físicos e mulheres.

Penso nas argumentações contrárias, como por exemplo, melhorar o nível da educação básica no Brasil e até um possível desnível da universidade pública com o adentrar desse pessoal e sempre caio na lógica da oportunidade e espaço garantido pra desenvolvimento da potencialidade.
E ao mesmo tempo, penso na questão de se ter quase 70 universidades públicas com o sistema mais variado possível de acessibilidade vias contas e penso que argumentar em prol das cotas acaba sendo perda de tempo.

Vamos para as cotas da UERJ: os cotistas além de comprovar serem negros, tem que ter renda até dois salários mínimos e ter estudado a vida toda em escola pública. E isso não garante a vaga, o candidato fará o vestibular, terá que chegar a nota de corte geral para qualquer estudante e além disso, ocupará uma vaga reservada em um curso x.

Em um curso de medicina de 50 vagas, 10 serão destinadas a cotistas. 40 não cotistas e 10 cotistas.

Antes, talvez de 50 alunos, teríamos um aluno negro, agora podemos garantir até até 10. E partindo do princípio de que academia é um espaço de produção de pensamento do Estado Brasileiro, essa convivência se torna necessária para a criar perspectivas diferentes daquelas que estamos acostumados.

E a questão não é mudar o pensamento acadêmico por si só. Temos que pensar que lógica de diversidade e mestiçagem que o Estado Brasileiro tanto gosta de exaltar e na hora dos espaços serem ocupados, a lógica da diversidade não tem tanto valor assim como pensamos.

Penso como professor de escola pública e quando pergunto pros meus alunos, quantos professores negros eles tiveram e eles me apontam como o primeiro e se eles pararam pra pensar sobre isso e ter uma resposta negativa: espera aí,  alguma coisa precisa ser feita.

Aí a gente escolhe: naturaliza a exclusão ou internaliza ou propaga a inclusão de fato.

Cota é apenas um caminho!








Fábio Batista (Emecê) é rapper, professor e superintendente de promoção da igualdade racial do município de Cabo Frio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário