por Fabio Batista (Emecê)
Estamos em um momento chave para entender quais espaços
devem permanecer como estão e quais devem se modificar para que as coisas
assumam outra perspectiva. Aí entra a noção de que nossa perspectiva está por
demais viciada e cheia de equívocos e se não tivermos pelo menos a capacidade
de admitir isso, danou-se tudo.
Entramos no campo da convivência e tomada de espaços, com a
necessidade preemente de grupos historicamente alijados terem os direitos
assegurados por um Estado reconhecidamente omisso, tanto institucionalmente
quanto politicamente. Ah, todos são iguais perante a lei! Sim, sim, somos!
Assim como existe um princípio de equidade que precisa ser
entendido e a partir disso, os movimentos acontecerem para que esse princípio
de estabeleça. Explicitando: A equidade é garantir a todos os cidadãos, sem
exceção, acesso aos bens, serviços e direitos oferecidos pelo Estado sem travas
ou impedimentos. E para que isso isso aconteça, existem vários mecanismos e um
dos líderes de audiência são as cotas.
A atenção demasia as cotas foram a partir do momento que se
entendia que um dos grupos historicamente alijados, os negros, precisariam ser
incluídos no príncipio de equidade. Até porque cotas no Estado Brasileiro
existe desde sempre: Seja na política de imigrantes para substituição de mão de
obra, lá no século XIX, até a cota para deficientes físicos e mulheres.
Penso nas argumentações contrárias, como por exemplo,
melhorar o nível da educação básica no Brasil e até um possível desnível da
universidade pública com o adentrar desse pessoal e sempre caio na lógica da
oportunidade e espaço garantido pra desenvolvimento da potencialidade.
E ao mesmo tempo, penso na questão de se ter quase 70
universidades públicas com o sistema mais variado possível de acessibilidade
vias contas e penso que argumentar em prol das cotas acaba sendo perda de
tempo.
Vamos para as cotas da UERJ: os cotistas além de comprovar
serem negros, tem que ter renda até dois salários mínimos e ter estudado a vida
toda em escola pública. E isso não garante a vaga, o candidato fará o
vestibular, terá que chegar a nota de corte geral para qualquer estudante e
além disso, ocupará uma vaga reservada em um curso x.
Em um curso de medicina de 50 vagas, 10 serão destinadas a
cotistas. 40 não cotistas e 10 cotistas.
Antes, talvez de 50 alunos, teríamos um aluno negro, agora
podemos garantir até até 10. E partindo do princípio de que academia é um
espaço de produção de pensamento do Estado Brasileiro, essa convivência se
torna necessária para a criar perspectivas diferentes daquelas que estamos
acostumados.
E a questão não é mudar o pensamento acadêmico por si só.
Temos que pensar que lógica de diversidade e mestiçagem que o Estado Brasileiro
tanto gosta de exaltar e na hora dos espaços serem ocupados, a lógica da
diversidade não tem tanto valor assim como pensamos.
Penso como professor de escola pública e quando pergunto
pros meus alunos, quantos professores negros eles tiveram e eles me apontam
como o primeiro e se eles pararam pra pensar sobre isso e ter uma resposta
negativa: espera aí, alguma coisa
precisa ser feita.
Aí a gente escolhe: naturaliza a exclusão ou internaliza ou
propaga a inclusão de fato.
Cota é apenas um caminho!
Fábio Batista (Emecê) é rapper, professor e superintendente
de promoção da igualdade racial do município de Cabo Frio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário