quinta-feira, 21 de março de 2013

Desabafo de quem acordou enjoada


por Celina Matos

Acordei enjoada. Na minha mente ainda reverbera uma voz me chamando de advogada de merda, e me acusando de pertencer a uma família de frustrados, de ser envidada do diabo, e me dando ordens para arrumar um homem para dar um jeito em mim. A voz pertence a um denominado "pastor" metodista, cuja prática já roubou de muitas vidas a paz, a alegria, a esperança, e, infelizmente, a fé. 

As palavras demonstram a essência de quem as profere, e as que eu ouvi estampam a maldade enraizada de quem se utiliza do evangelho e da igreja para alcançar outros objetivos, que não os do Reino. Alguém já disse que quem realmente se encontra com Deus jamais pretende usá-lo em benefício próprio. 

Os adjetivos usados não me causam nenhum peso, não me diminuem, pois tenho convicção do que sou como seguidora de Cristo, como mulher e como profissional. Até aqui me ajudou o Senhor a resplandecer a face de Cristo, e a brilhar na escuridão. Participei de algumas viagens missionárias, cumprindo o Ide e o cuidado ao próximo, mandamentos deixados pelo meu Grande Mestre há 2013 anos. Disso me orgulho e a minha vida fala muito mais do que minhas palavras. Mas o enjoo está aumentando.

"Frustrada" não parece um adjetivo adequado para minha pessoa. Cresci numa família onde pessoas íntegras me educaram e me ensinaram que seria do suor do meu rosto que viria o meu sustento. Aos 16 anos iniciei a faculdade de Direito, com 22 me tornei advogada, e hoje exerço minha profissão sem causar vergonha à minha classe. Estou cercada de amigos que me amam e com quem posso contar, tanto na alegria como na dor. Tenho saúde, sustento, o que me vestir, e onde reclinar minha cabeça confortavelmente. Tenho muito mais do que preciso, mas o vômito parece iminente. 

Ouvir que "preciso arrumar um homem para me dar um jeito" me fez lembrar todos os direitos dolorosamente conquistados pelas mulheres ao longo dos anos. Causa-me tristeza profunda saber que mulheres se sentem obrigadas a viver ao lado de homens tais como esse, que veem a mulher como sua propriedade. Não me permito abaixar a cabeça diante de quem se julga superior simplesmente por ser do gênero masculino. 

Denunciei, e assim farei novamente, e quantas vezes entender necessário, os desvios de finalidade e de conduta ocorridos na igreja. Jesus entrou no templo quebrando mesas dos cambistas que dele se utilizavam para enriquecimento pessoal e desmedido. LADRÕES, gritou Ele. Estaria Jesus também movido pelo diabo ou pelo espírito de Jezabel?

Preciso vomitar, vou colocar pra fora tudo que me causa náusea e desgosto. Sobre quem recairá e quem sentirá o cheiro não me importa, pois a cura é urgente e o tempo não é seu aliado. 
















Celina 
é Membro da  
Igreja Metodista em Búzios, Rio de Janeiro.

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