quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

De volta ao mar: conceito sustentável mantem viva tradição secular


Torneio de pesca esportiva promove o pesque e solte (catch & release), garantindo pontos para participantes e para a natureza

Sob o comando de Marco Ribas, a embarcação Tarpon atracou majestosa na subsede do Iate Clube do Rio de Janeiro, em Cabo Frio, no último sábado (2). Exibindo suas bandeiras ao vento e com a sensação de dever cumprido, a Tarpon foi a gande campeã do XX Cabo Frio Marlin Invitational, promovido pelo Iate Clube do Rio de Janeiro (ICRJ), sem ter embarcado nenhum exemplar. Com peixes capturados nas três etapas do torneio de pesca esportiva oceânica, a Tarpon devolveu à natureza todos os peixes que lhe renderam o título.
O torneio reuniu 21 lanchas dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, com cerca de 100 tripulantes no total. Durante toda a semana, capturar o mais disputado peixe, um dos maiores predadores dos mares, era o maior objetivo de todas as embarcações. Com fama de guerreiro, por sua agilidade e resistência, como foi retratado no romance de Ernest Hemingway, “O Velho e o Mar”, travar uma luta com o marlim-azul (Makaira nigricans) sempre foi – e continuará sendo - a aspiração e inspiração de cada “lobo-do-mar”.
E não é por acaso que o Torneio de Cabo Frio gera tanta expectiva. Mesmo sob condições muitas vezes adversas, como ventos fortes e mar alto, a costa cabofriense é considerada excelente pelos pescadores esportivos por reunir peixes-de-bico de grande porte. “A expectativa em Cabo Frio sempre é grande. Viemos em busca dos peixes acima de mil libras (500 quilos) e a região está entre os poucos lugares do mundo onde eles são encontrados”, destaca o diretor de Pesca do ICRJ, Luís Carlos Bulhões, o Lula. Os participantes podem capturar incidentalmente o marlim-branco, também conhecido como agulhão-branco (Kajikia albida ou Tetrapturus albidus) e o sailfish, ou agulhão-vela (Istiophorus platypterus), mas não pontuam.
Experiência, equipe afinada e equipamentos adequados são apontados pelo comandante da Tarpon, Marco Ribas, como elementos fundamentais para o sucesso da pescaria. “Mas nada disso dá resultado se não houver persistência”, ressalta, do alto de seu conhecimento como pescador esportivo. Neto e filho de pescador, Marquinho, como é carinhosamente chamado, destaca que, caso seja necessário, luta um dia inteiro com o Marlim. “Normalmente, o peixe é mais forte, mesmo com a tecnologia que dispomos”, compartilha, acrescentando que o embate com o marlim é um momento de adrenalina no máximo, dificilmente traduzido em palavras.
A premiação do torneio ocorrerá durante a Festa Anual da Pesca Oceânica, realizada no Iate Clube da Capital, no dia 23 de março. Seguem a campeã Tarpon na classificação final: Jenny (2°), Sunset/Alhambra (3°), Picante (4°) e Maloha (5°). A embarcação vencedora já está pré-qualificada para o Mundial, que será realizado na Costa Rica, no próximo ano. O recorde na região de Cabo Frio continua sendo de Eurico Soares, com um marlim-azul de 575 quilos, capturado em 2001, na lancha Komplott, de José Roberto Valente Wagner.

Novo conceito
Há 30 anos, o peixe capturado em torneios de pesca era embarcado e trazido como trofeu; hoje, com a introdução do conceito do pesque e solte, o peixe é liberado na maioria das vezes. Para que não seja apenas história de pescador, os exemplares capturados são filmados e medidos antes de serem liberados. Uma senha, que é afixada no casco da embarcação, valida as informações a cada etapa da competição.
Lula explica que o regulamento proibe a captura de exemplares com menos de 250 quilos, no caso do marlim-azul, preservando a população juvenil, que ainda não teve a oportunidade de se reproduzir. Há penalização para quem desrespeita essa regra. Além da revisão das regras dos torneios, a tecnologia é outra grande aliada da sustentabilidade, pois permite identificar com mais precisão as espécies. A evolução dos petrechos também contribui para a preservação. Um exemplo é o anzol circular, usado na captura do sailfish, que prende no canto da boca e, caso seja engolido, não causa ferimento letal. O anzol circular, que é biodegradável, tornou-se obrigatório nos últimos cinco anos.
Preservação
A parceria firmada entre pescadores esportivos e pesquisadores, nas últimas duas décadas, é outro elemento fortíssimo na preservação dos peixes-de-bico. Durante os torneios de pesca oceânica, pesquisadores de diversas instituições nacionais são convidados a embarcar, quando tem a oportunidade de coletar materiais para análise, além de estudar as espécies em alto mar. Mesmo que esta parceria não seja formalmente computada como incentivo financeiro, a carona amiga – leia-se aporte financeiro de grande relevância - tem sido fundamental para o desenvolvimento de uma série de pesquisas. Nessa parceria, além de fomentar a pesquisa, a educação ambiental é outro segmento que recebe atenção especial. Com mérito, o apoio do ICRJ é reconhecido por pesquisadores do Instituto de Pesca de Santos/SP, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, do Museu Histórico Nacional, pela Universidade Veiga de Almeida (UVA/RJ), além da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT).
Assim, pescadores esportivos e pesquisadores seguem fazendo o que mais gostam, unidos em prol da preservação do seu bem mais precioso: a lenda do mar azul

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