terça-feira, 11 de setembro de 2012

Entrevista com Dicastro- Líder da banda Sangue da Cidade.









Nessa entrevista Victor Viana, acompanhado de uma turma de jornalistas  - saudades- de peso, entrevistou Discastro da Banda Sangue da cidade, sucesso nos anos 80.  O Blogão dos Lagos  entrevista Dicastro líder da Banda Sangue Da Cidade Leia esta entrevista e conheça um dos ícones dos anos 80 reverenciado por uma geração. Na entrevista revela bastidores e curiosidades sobre Cazuza, membros do Kid Abelha, Baraão Vermelho e fala sobre seus planos para o futuro.









Naldo Marquez: Dicastro, eu vi uma entrevista sua que o Jorge Israel fala com certo entusiasmo a amigos onde ele dizia: que todos do rock que realmente importaram nos anos oitenta estiveram em sua casa, nos conte um pouco desta historia.


Dicastro:  É um dom para engenharia social! Eu sempre fui o rei do “clubinho”. Clubinho do Atari 2600, Atari 1024, do Amiga 500, e depois do PC etc.. Desde moleque eu tinha um monte de “amiguinhos”.
Claro, com o rock não foi diferente. Tenho o máximo interesse em conhecer pessoas de talento e fazer novos amigos. Muitas portas se abrem e muitas possibilidades surgem.
A troca de informações é uma excelente forma de aprendizado. Cada um detém um conhecimento em uma determinada área. É dessa maneira que eu aprendi quase tudo. Sempre tenho um “amiguinho” especialista, que me dá as dicas principais e eu vou embora...

Naldo Marquez: Em que momento você percebeu que a sua casa virou um ponto de encontro para esta geração? (Naldo Marquez)

Dicrastro: Eu nunca “percebi”... Minha vida sempre foi assim. Para “perceber” eu teria de ter sido de outra forma antes.

Raquel Nascimento: Você Dicastro e o responsável direto pelas composições da banda?

Dicastro: Bem... Sou compositor, tenho uma grande quantidade de músicas e criei um projeto que se chama “Sangue da Cidade” para poder tocar essas músicas. Portanto, todas as músicas são minhas.
Eu sempre sonhei em ter uma banda, como os Beatles, mas isso é utópico. Hoje eu vejo isso com mais clareza. Não sou um dos participantes do “Sangue da Cidade”, eu sou o “Sangue da Cidade”. As outras pessoas é que participam do meu projeto. É quase uma carreira solo, mas como cada participação soma um grande valor artístico, eu prefiro trabalhar como uma banda.



Naldo Marquez: Conte-nos sobre as brigas, e verdade que em pleno sucesso a banda parou foi cada um para o seu lado? Como foi isto?

Dicastro: Cada um, dentro de um projeto, tem seus próprios objetivos, mas isso só aflora quando esse trabalho começa a fazer sucesso. Aí vem uma quebra de braço constante, que faz com que esse trabalho acabe se tornando se inviável. Essas brigas foram apenas por esses interesses, mas fora isso, nunca tivemos grandes problemas pessoais.







Victor Viana: Como e juntar a galera depois de uma briga?

Dicastro: Eu não juntei! Apenas convidei outras pessoas para participar dessa nova fase do meu projeto. O único que sempre esteve comigo desde o início é o Ronaldo Jones.

PC Chips: Vocês pararam por vinte anos como foi esta decisão de voltar? (PC chips )

Dicastro: Passei um período longo de depressão que me fez parar com tudo, mas há quatro anos atrás tive um problema de coração e quase morri. Fui três vezes para o CTI. Aí eu percebi que não tenho mais tempo para esperar e provavelmente nunca ia conseguir fazer as coisas como gostaria. Era pegar ou largar...


Esmael Carolho: Neste período você esteve vinculado a musica de que maneira? Produzindo compondo ou fazendo shows solo pelo Brasil a fora, nos conte um pouco deste momento.

Dicastro: Eu faço um monte de coisas: Componho, escrevo as letras, toco guitarra e baixo, canto; programo os teclados, a bateria e as percussões; faço os arranjos, gravo, mixo; sou geek e trabalho com computadores, instalo a parte de informática dos studios; edito vídeos, autoro e dirijo DVDs; jogo Doon e Quake etc..
Grande parte dos trabalhos que fiz foi com o PH, ele era o tecladista do Sangue nos anos 80’s, mas é produtor musical da TV-Globo há uns 20 anos. É o responsável pelos eventos especiais, como “Criança Esperança”, “Fama”, “Amigos” etc.. Gostava de trabalhar com ele porque as produções sempre eram de alto nível.

Raquel Nascimento: O principal momento de vocês foi em vivido de 1981 a 84 me conte um pouco deste momento .

Dicastro: Começamos em 75, batemos cabeça até 80, mas em 81 resolvi arranjar um bar para a gente se fixar e tocar todo fim de semana. Aí o trabalho se tornou mais intenso e tudo aconteceu.
A música tocava em todas as rádios. Participamos dos principais programas da Globo, como “Chacrinha”, “Globo de Ouro” , “Cometa Loucura”, “Geração 80” etc.. Claro, participamos de vários programas dos outros canais também. Fizemos uns vinte shows no Circo, com uma média de 2000 pessoas por apresentação e muitos shows pelo Brasil.



Victor Viana: Como foi a volta da banda depois de 20 no circo voador.


Dicastro: Foi ótima, “The return of the living deads”  ( risos)  Gostaria que as nossas apresentações fossem no mínimo assim!
Nesse dia não tive nem que levar guitarra! O produtor musical era o Ricardinho Palmeira, que é meu amigo, e ele me perguntou se eu não preferia tocar na guitarra dele, para não ter que mexer no setup, que já estava pronto. Claro que eu quis! Assim realizei um sonho de tocar e ir embora sem ter que carregar nem um fio, igual ao Led Zeppelin, no final do filme “The song remains the same”.





Victor Viana: E está volta o reencontro de vocês como foi, apesar deste tempo separados vocês ainda mantinham contato?

Dicastro: Sou amigo do Ronaldo desde a adolescência, com ele eu sempre estou. O Vid mora fora do Rio de Janeiro, por isso vejo pouco. Os bateristas Peninha e Rodrigo grandão morreram. O PH trabalha como um escravo e mora no Recreio, o via sempre quando estava trabalhando com ele no seu Studio no Downtown, mas continuo sempre em contato.


Esmael Carolho: Como você definiria os anos oitenta, como Dicastro viu aquele período sente orgulho raiva, como você me definiria ter vivido e feito muito sucesso naquela época. (Esmael Carolho )

Dicastro: Pra mim foi ótimo! Estava com vinte e poucos anos, fazendo sucesso, tocando nas rádio e aparecendo na TV, os shows sempre lotados...

Raquel Nascimento: Na musica “da mais um” vocês da banda decidiram troca o nome para “brilhar a minha estrela”
quem da banda os alertou sobre problemas com a censura era apenas uma desconfiança ou avia um real motivo para o medo? (Raquel Nascimento)

Di Castro: Não foi a banda que decidiu, fui eu. A música não tem parceiros, portanto cabia a mim tal decisão. Coloquei o título “Brilhar a Minha Estrela” em vez de “Da Mais Um” com medo que a censura negasse a liberação por causa disso. Na verdade a grande preocupação deles era outra, mas vai saber...

Naldo Marquez: Bem como eu disse e impossível datar e vincular a musica do sangue na cidade como pertencente aos anos 80, mais se alguém o fizer você se irritaria?

Dicastro: Acho que não teria muito problema, afinal nós fizemos sucesso nos anos 80’s. Só não tenho interesse de usar isso como foco principal do nosso marketing.

Naldo Marquez: A radio FM Fluminense revelou grandes sucessos em uma determinada época, ousou em apostar em talentos que não eram vistos pela maioria das grandes rádios, hoje em dia tem alguém desempenhando o mesmo papel por novos músicos e novas bandas?

Dicastro: Não conheço! Se tiver alguma rádio fazendo isso me avise! Tenho umas 50 músicas prontas para mandar, minhas e de outros artistas que produzi.









Victor Viana: Pó cara! Vocês tocaram no chacrinha? Como foi esta experiência? Aquele foi o melhor momento do grupo?

Dicastro: Foi um ótimo momento, a graça é ser visto por milhões de pessoas, mas o que mais causa emoção é o show ao vivo para milhares de pessoas, que cantam, participam e se emocionam junto com você.



Naldo Marquez: Vocês pisaram no consagrado paco do circo voador em dois momentos distintos como foi se deparar em um lugar que vocês tocaram e ajudaram a consagrar e depois voltar com um publico mais novo diferente do momento vivido 20 anos antes nos conte um pouco deste sentimento vividos por vocês.

Dicastro: Não foram dois momentos, foram muitos. Começamos no Circo Voador do Arpoador, junto com Evandro e a Blitz, o grupo de teatro Asdrubal Trouxe o Trombone, Barão Vermelho etc..
Depois o Circo foi para a Lapa, nessa época é que pintou a Fluminense e com seu apoio fizemos pelo menos uns dez shows.
Quanto ao público mais novo, se tivermos os meios, tenho certeza que vão gostar do nosso som, assim como gostaram nesse show da Festa Ploc II.



Naldo Marquez: Você Dicastro conta uma historia que o barão vermelho só aceitaria deixar vocês tocarem com eles caso vocês emprestassem as caixas de som para eles como foi este fato, foi assim mesmo?


Dicastro: ( Risos) Na verdade eles já usavam o meu equipamento sempre! Nós fazíamos um lobby, mas é uma longa história...
O PH (nosso tecladista) era amigo de infância do Maurício Barros, Edom, Kayath, Guto Goffi e outros. Eles estudavam no Colégio Imaculada da Conceição e andavam sempre juntos. Originalmente o Barão era formado pelo Maurício Barros, Tony Rockeiro, Kayath e Guto Goffi.



Victor Viana: Havia uma certa briga por luz ao sol ou todos compartilhavam do mesmo sonho e um ajudava o outro, com equipamentos e aparelhagem de som no inicio.

Dicastro: Não havia pontos de conflito, portanto não havia porque brigar. O Maurício tinha um Korg Lambda, que nós sempre pedíamos emprestado. O PH comprou um Orgão Hammond e a mãe não o deixou colocar em casa, aí ele deixava com o Maurício. E assim ia...
Só que o sol deles era muito mais forte, afinal o pai do Cazuza era o dono da gravadora. Enquanto eu precisei juntar as moedinhas e comprar um período de gravação em 8 canais, eles tiveram três meses para fazer o primeiro disco, na Som Livre em 24 canais com a melhor tecnologia da época.


Naldo Marquez: Os anos Oitenta esta na moda como voce vê este fato, os senhores de 40 querendo reviver uma suposta juventude perdida?

Dicastro: quando nós somos jovens, tudo é muito melhor! Não é? Por isso é que existe o saudosismo, e aquele papo tipo: Ahhh... Naquele tempo é que era bom... Claro, tava com 20 anos, as namoradas idem, não tinha nenhum dos problemas que surgem com o tempo como responsabilidade, dinheiro, doenças, ex esposas, filhos etc..

Naldo Marquez: E verdade que o barão vermelho queimou as caixas de som de vocês?

Dicastro: Eles dizem que não, mas de fato, quando emprestei estava funcionando e quando voltou estava queimada.




Naldo Marquez: Sou musico e ouvindo a musica de vocês ainda hoje me soa como novo e diferente, e estranho perceber que dos anos 80 vocês são uma banda impossível de dizer “soa como a musica dos anos 80” na época o sangue na cidade era visto desta forma como um estilo novo e diferente?

Dicastro: Olha... Eu queria ter uma banda como o Zeppelin, e a maioria naquela época tinham uma d’aquelas bandinhas “água com açúcar” e/ou “Rock piada”, que era o que o público consumia. Eu fui pelo coração, fiz o rock que eu acreditava, mas o preço foi ser um produto que estava foro do mercado. Quem comprava rock de verdade, não comprava o rock brasileiro, quem comprava música brasileira só aceitava esse tipo de som, no máximo.



Naldo Marquez: Dicastro você viu e viveu o começo do barão vermelho e claro conheceu o cazuza como foi o seu relacionamento com este também Gênio?

Dicastro: Ele tinha um Bugre vermelho e só dirigia, eu e os outros carregávamos as caixas de som. Rssss...
Estávamos sempre juntos no baixo Leblon, baixo Gávea e Posto 9. Era esse o circuito da galera. Fui algumas vezes na casa dele, que era na Prudente de Morais.
Uma vez eu cheguei cedo no baixo Leblon e sentei com ele numa mesa do RA. Como ele ainda não estava “estragado” conversamos civilizadamente. ( Risos)  Eu perguntei sobre essa história do pai dele ser o dono da gravadora e tal. Ele me deu uma resposta que eu nunca esqueci: -Dicastro, eu gostaria que todos tivessem todas as oportunidades do mundo, mas também não posso ficar me culpando por eu ter essa oportunidade e os outros não. Vou aproveitar o que posso sem me sentir culpado.

Raquel Nascimento: É melancólico saudar e reviver os anos oitenta?

Dicastro: Eu sou um homem do futuro! É gostoso se relembrar, mas não quero ficar só nessa. Já estou me coçando para fazer um repertório todo novo e seguir em frente!

Naldo Marquez: Alguns críticos e cientistas sei La do que dizem que os anos 80 foi uma época ingênua como você vê estes dizeres, que sinceramente não sei se é uma critica ou um elogio, apesar de perceber um orgulho por parte dos amantes desta época em que se dizem inconseqüentes por desconhecer ou por não querer saber.

Dicastro: Não sei da onde tiraram isso! Devem ter fumado um grandão e entraram nessa! ( Risadas )









Entrevista publicada originalmente no Blog O Curinga de Búzios.

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