Entrevistas













Entrevista com o Empresário Alexandre Martins, ex vice-prefeito de Búzios.


Alexandre Martins recebeu a reportagem do Blogão dos Lagos no seu escritório no Condomínio Porto Belo em Manguinhos. Entre um cliente e outro que visitava o escritório conversamos sobre Búzios e sobre seus planos futuros.

Alexandre Martins recebeu o Blogão dos Lagos,
entre um cliente e outro em seu escritório
por Camila Raupp

Blogão dos Lagos: A primeira pergunta é algo que cremos que muitos gostariam de saber. O que o ex vice-prefeito está fazendo?

Alexandre Martins: Estou trabalhando como comerciante e na imobiliária do meu pai (Miguel Guerreiro). Além de estar trabalhando na área de construção civil. Voltei a atuar  na mesma área em que trabalhava antes.

Blogão dos Lagos: Com essa retomada ao comércio, como avalia a situação da cidade nesse sentido?

Alexandre Martins: O empresariado de Búzios está passando por um momento difícil.  Sendo que os empresários do ramo de roupas, assessórios e derivados sofrem mais, porque os hoteleiros consideram boa uma ocupação de até 60% e no caso dos restaurantes, todos precisam comer, e realmente temos a melhor gastronomia do estado. Mas alguns tipos de comércios sofrem mais com a sazonalidade e com o dólar baixo.

Blogão dos Lagos: Na sua opinião o que agrava o problema da sazonalidade em Búzios?

Alexandre Martins: A falta de políticas de continuidade. O governo que entra não dá continuidade às boas coisas que o governo anterior realizou, isso prejudica muito. Porque a cidade fica em um eterno recomeçar do zero.

Blogão dos Lagos: O que você tirou de bom da jornada como vice-prefeito?

Alexandre Martins: Adquiri experiência, mesmo não tendo poder de decisão, o que é muito difícil. Mas acho que fiz a minha parte. Vice bom é o que não traz  problemas ao prefeito e acho que eu ajudei a resolver muitos problemas.  Para mim foi muito importante dirigir duas ou três edições do governo itinerante, no tempo que ele durou. O meu gabinete era aberto à população, algo que sempre me deu muita satisfação, afinal eu recebia para isso. Recebia para atender o povo.  Quando fui vereador já fazia isso.

Blogão dos Lagos: Por que você foi a sessão solene de posse do novo governo no hotel Atlântico?

Alexandre Martins: Não fui a posse (entrada) do novo governo, fui à minha saída. Eu estava como vice-prefeito representando o governo que estava saindo e não estava saindo pela porta dos fundos. Perdemos uma eleição e isso faz parte de uma disputa eleitoral, só isso. Entrei pela porta da frente e saí pela porta da frente.  No momento que me deram a palavra repeti a frase que ouvi de de um amigo: "Quem não sabe perder não merece ganhar". E além disso eu havia sido convidado pelo presidente da câmara. 

Blogão dos Lagos: E como se sentiu na sessão? 

Alexandre Martins:  Nunca é uma sensação confortável estar na festa da vitória de um adversário  mas eu precisava ir e fui muito bem recebido  por todos.  

Blogão dos Lagos:Você é prefeitável? 

Alexandre Martins: Acho muito cedo para responder isso. Quem tem que indicar isso é a opinião publica, uma candidatura legítima tem que ter algum apelo popular. No meu caso estou focado em minha vida particular.

Blogão dos Lagos: O que está achando do novo governo? 

Alexandre Martins: É cedo para uma análise. Mas a primeira impressão é a de que está faltando diálogo entre alguns agentes do governo. 

Blogão dos Lagos: Planos para 2013? 

Alexandre Martins: Cuidar da minha família, ter um pouco mais de tempo pra mim, estabelecer uma rotina de trabalho, alcançar alguns projetos pessoais. Um cargo público exige muito da pessoa. Enfim, é isso, trabalhar bastante na minha área, dar atenção á minha família e estar atento como cidadão ao que acontece na minha cidade. 

Blogão dos Lagos: Houve um rumor sobre uma possível candidatura a deputado estadual em 2014, citando o seu nome. Isso procede?

Alexandre Martins: Esse fato também me pegou de surpresa. Algumas pessoas tem comentado isso comigo, inclusive elas tem vindo ao escritório falar comigo sobre essa possibilidade. Estou analisando a situação e se for bom para a cidade, por que não? Mas não há nada definido ainda.
















Entrevista com o ex-prefeito de Búzios Mirinho Braga

por Camila Raupp

O ex-prefeito Mirinho Braga recebeu a equipe do Blogão dos Lagos na tarde de segunda-feira (04) em sua casa, no Parque das Acácias. Descontraído e muito a vontade falou sobre o quadro político da cidade, o novo governo e sobre seus projetos para o futuro.


Mirinho Braga, ex-prefeito de Búzios recebendo
a equipe do Blogão dos Lagos

Blogão dos Lagos: Passados mais de noventa dias das eleições, como o senhor vê hoje o cenário político de Búzios?

Mirinho Braga: Eu vejo um cenário confuso, na realidade a gente tem um governo confuso. Eu disse outro dia em uma entrevista em uma TV a cabo em Cabo frio, que esse governo, é um governo composto pelo pior que tinha no governo Toninho Branco.  Está se projetando um futuro que não é bom para a cidade. Hoje mesmo eu postei em meu blog uma dispensa de licitação de 6 milhões de reais para limpeza pública. É esse tipo de coisa que tem acontecido na cidade. É claro que temos que dar um tempo e eu como todo mundo torço e espero que o governo acerte e trabalhe pela população de Búzios.

B L: A que o senhor atribui o insucesso do governo de transição já que logo nas semanas seguintes à eleição o senhor convocou oficialmente o início do processo de transição? 

 M B: Falta de preparo, a total falta de preparo. Eles ficaram quase vinte dias de janeiro sem saber usar a parte de informática, que é o coração ee a mente da prefeitura. Eles não se interessaram pela transição. Em poucos setores, e em poucas secretarias houve interesse. Nas secretarias de Educação e um pouco na secretaria de obras de Genilson, o restante eles não se interessaram, acharam que iam chegar e fazer de qualquer maneira e dar certo. Não estavam e não estão preparados, importaram funcionários do governo Zito de Duque de Caxias, vários funcionários de Maricá, de Saquarema. São pessoas que  não conhecem a  cidade.  Na verdade eles estão expurgando o buziano. E quando digo buziano, não estou falando só de quem nasceu aqui, mas os que moram aqui. Se não mudar, não vai dar certo.

B L: O senhor no fim do governo chamou os candidatos que passaram no concurso público.  Ainda assim, as escolas estão sem professores e alguns setores sem pessoal. A que o senhor atribui essas questões?

M B: Na realidade eu não chamei os concursados no final do mandato, eu chamei antes da eleição. O que houve é que não se respeitou. Não estão respeitando a chamada do concurso, com o intuito de contratar, existe muita contratação e quem fez concurso está de fora dessa chamada.

B L: Como o senhor analisa o quadro da educação hoje em Búzios, com menos de 90 dias de governo já vivendo uma crise?

M B: Essa crise na educação é uma crise prevista, porque você não pode pegar um secretário que não conhece a cidade, se colocar ele dentro de Vila Verde e rodar não consegue sair. E a culpa é dele? Não. A culpa é de quem o indicou e nomeou. Uma coisa é você ser secretário de uma cidade como o Rio de Janeiro ou Niterói, outra é ser secretário em Búzios, Arraial, Casimiro de Abreu. Tem que haver o pessoal. Essa impessoalidade que ele tanto prega não é boa pra ninguém. Nem para a cidade nem para a educação. Há na realidade uma política, no meu entender, mal feita. Tenho acompanhado pelas redes sociais, e vejo o secretário e o governo menosprezarem a mão de obra local. Aqui temos ótimos profissionais, ótimos professores, temos aqui os melhores profissionais de educação da região. Não há uma valorização da classe nesse sentido.

B L: A maior reclamação hoje é da obra na escola Nicomedes. As aulas começaram antes do fim das obras. E alunos e funcionários reclamam da desorganização. A culpa é de quem?

M B: A escola Nicomedes abriu com carteiras velhas, quebradas, começou as aulas sem a obra terminada. A culpa não é do construtor, o construtor tem até abril para concluir a obra por contrato. A culpa é de quem dispensou os containners que estavam lá no clube de Manguinhos. Os alunos estão estudando de forma improvisada, com a escola ainda em obras. Faltando merendeiras, faltando inspetor de alunos, faltando professores. Estão brincando com a educação. Se você me perguntar se o secretário é competente, sim, talvez seja, mas está com uma política de educação errada. Querendo usar política de cidade grande em Búzios.


BL: Como o senhor vê as pessoas públicas que tem usado as redes sociais para se manifestar, inclusive em horário de expediente?

MB: Eu vi algumas postagens do secretário de educação por exemplo, agredindo o vereador Felipe Lopes. Falando inverdades. O que não se pode esquecer nunca é que o prefeito, o vice-prefeito, os vereadores e secretários, são todos funcionários do povo. Não dá para o homem público ficar ali, perdendo tempo e respondendo em redes sociais, enquanto há tanto o que fazer pela cidade.

B L: Falando sobre as redes sociais, o senhor fechou sua conta no facebook. Por quê?

M B: Na verdade o facebook virou um lugar para as pessoas tratarem seus problemas pessoais. Querem se tratar psicologicamente no facebook. Você vê cada postagem que assusta. A pessoa briga com o marido, posta no facebook. Eu como pessoa pública não tinha muito como escolher quem você vai ter como amigo ou não. Na realidade eu excluí minha conta depois que deixei de ser prefeito. Até curioso, poderia agora estar aí com o facebook.


BL: Na campanha última se inaugurou uma agressividade nas mídias sociais. Em especial dos que faziam oposição ao seu governo. O senhor acha que o governo está preparado para uma oposição nas mídias sociais ao contrário?

 MB: Eles estão provando do próprio veneno. Mas eu te digo que sinto falta por exemplo, da Ativa Búzios nas redes sociais. Não os vejo mais atuando junto ao Ministério Público, será que é porque alguns membros da ONG tem cargo de confiança dentro do governo? É uma pergunta que se deixa no ar. Sinto falta desse comprometimento que a Ativa Búzios tinha com a cidade. Sinto falta do compromisso que a Ativa Búzios tinha com a cidade. Acabaram as fiscalizações nas licitações, nas obras. O ativismo nas redes sociais de uma forma geral acabou. O ativismo era agressivo, ofendiam membros do governo, agrediam a mim. Eu tenho processos contra alguns rolando na jstiça. Sinto falta disso. Eu de maneira nenhuma quero o mesmo comportamento agressivo com o novo governo, mas quero que continuem fiscalizando. Que sejam coerentes. Dois membros da Ativa Búzios estão no governo, foram nomeados em BO, será por isso o silêncio?

BL: Como o senhor vê, sendo hoje um blogueiro, o uso dessas ferramentas alternativas como blog, facebook, twitter no processo político?

MB: Essas ferramentas são fundamentais. Ninguém pode fugir hoje da mídia social para fazer política. É uma ferramenta importante não só para a política mas para tudo daqui a pouco. É evidente que tem de haver um bom senso de equilibrar. Como falei antes, o homem público ou candidato não pode estar no facebook respondendo a tudo. O que temos de fakes na cidade é uma coisa de louco. A pessoa agride e você nem sabe quem é. Mas é fácil descobrir quem é, o jeito de escrever não muda, até quem diz que não gosta de fake tem fake.

BL: Existe um consenso entre o seu grupo sobre esse trabalho nas mídias alternativas?

MB: Há um consenso natural, de quem se conhece desde muito tempo. Que pensa parecido. A coisa flui de modo muito natural. As vezes que tenho encontrado comAlan(Câmara), com Carlinhos e outros companheiros, até de Cabo frio, a gente aborda assuntos. Mas é engraçado, é quase como um time de futebol que joga junto há muito tempo. Não há reuniões, mas é uma coisa natural. Isso acaba acontecendo entre vários blogs.

BL: Quais são os seus planos para o futuro?

MB: O meu plano para o futuro é descansar um pouco. Evidente que já recebi propostas para ir para o Rio de Janeiro. Essas propostas me fariam estar a semana toda no Rio, e eu estou estudando isso. No nível político hoje a minha intenção é ajudar a reeleição para deputado estadual do meu amigo Janio Mendes. E ajudar os companheiros de partido para deputado federal, senador, governador, ver o que o partido vai decidir e que caminho vamos seguir. Dia 22 teremos a convenção nacional do PDT em Brasília, e ali além da eleição teremos algumas diretrizes do partido. É evidente que eu tenho a minha opinião, mas não vou externar porque pode ser diferente da maioria do partido. A única coisa definida nesse momento é a reeleição de Janio e já adianto em primeira mão 99,9% definida a campanha de Felipe Peixoto para deputado federal, que é um grande amigo de muitos anos. A gente vai fazer essa dobradinha Felipe e Janio, um para a Alerj e outro para a Câmara Federal.

BL: O PDT pensa em lançar candidatura própria à presidência?

MB: Há essa discussão no partido, em torno do nome de CristóvãoBuarque. Eu sou a favor de uma candidatura própria. Acho que o partido tem que ter cara, mostrar essa cara. Com o Cristovão como candidato você coloca em pauta a educação. Se o Cristovão não for o candidato não existe educação em pauta. Isso é importante para o país. Eu vou dizer algo polêmico, hoje eu não vejo diferença entre PT e PSDB. Não estou falando do PT de quinze anos atrás, e sim do PT de hoje. Sinceramente, hoje eu não vejo muita diferença entre eles. Eu não gostaria de ver o PDT à revoque desses partidos. Mesmo que lançando uma candidatura seja difícil se eleger. O PT hoje tem 70 milhões de bolsas. É uma máquina poderosa. Eu não sou contra bolsa, mas sou mais a favor de ensinar a pescar o peixe. Sou a favor de uma candidatura própria do PDT, sou do diretório nacional, vou participar, vou votar nessa discussão. Estou há 27 anos no partido e sempre sigo o que a maioria decidir. Senão acontece como agora no Rio, o Lindberg quer ser candidato e o PT não vai deixar. Para ser candidato, ele vai ter que sair do partido, na minha opinião. Porque a direção do PT no Rio de janeiro está toda comprometida com a política do governo do SergioCabral. Eu disse isso a ele, conversamos isso esses dias, durante um almoço aqui em Búzios.

BL: A base do governo nessas últimas eleições perdeu em várias cidades, e partidos quase sem expressão, como é o caso do PSC em Búzios, chegaram ao poder. A que o senhor atribui esse fenômeno?

MB: Eu não saberia falar de outros municípios, mas vou dizer uma coisa que ainda não disse a ninguém. Aconteceram coisas não republicanas aqui em Búzios. Mas não posso falar, nem comentar porque não tenho como provar. Não da para discutir porque fica parecendo “discurso de perdedor”. E quando eu perdi a eleição a primeira coisa que eu disse ao meu filho mais novo foi: “É a vontade de Deus”. Mas se formos entrar nessa discussão, ela sai de Búzios, ela atravessa a região e o país. Um dia isso pode aparecer.

BL: O senhor acredita no nome André Granado? Ou acredita que é apenas um nome proposto em uma articulação política?

MB: É na verdade, uma série de interesses de todo os tipos. Você pega um diário oficial e eu já citei isso nos serviço de limpeza, mas na saúde há uma série de dispensas de licitação. Há discussões de cada um ficar com uma fatia, um pedaço. A minha maior dificuldade nesse terceiro mandato foi bater de frente contra esses interesses. Tinham alguns vereadores que queriam ficar com pedaços do governo. Isso é meu, esse é meu aquilo é meu. Eu conversava agora a poucos minutos com o ex-verador aqui de Búzios, Paulo Pereira que a maior dificuldade em se governar será sempre essa. A não ser que haja uma reforma política séria. E quando vemos essa candidatura, sabe-se que não havia uma articulação em torno do nome André, mas uma articulação para que todos se desse bem. O que até agora, aparentemente está acontecendo. E dane-se a cidade. O que se tem de documentos com dois meses de governo é um troço absurdo.  E você vê pessoas em jornais afirmando “investi um milhão e meio na campanha”. Esse mesmo “investidor” da campanha, antes de investir, me procurou, tenho o nome dele em uma agenda, solicitando audiência, em 2010. Está lá escrito o nome dele.

BL:Não ter aceitado esse tipo de investimento pode ter gerado ódio e desejo de vingança?

MB: Sempre gera porque acaba gerando vingança quando você contraria interesses financeiros. O dinheiro é a desgraça do mundo. Você contraria interesses, e atrai para você forças contrárias e se você joga na mesma moeda, se defende, mas vai estar se igualando. Jamais vou ganhar uma eleição para deixar outra pessoa mandar no meu lugar. E isso está acontecendo hoje. Pessoas que estavam impedidas de serem candidatas, que tem problemas na justiça que mandam e desmandam hoje na prefeitura. E com muita maestria porque não deixam digital. Não estou dizendo com isso que no meu governo só tinha santos. Existem pessoas que findada a eleição, eu disse: “Nunca mais quero essa pessoa perto de mim. Quando digo que Deus me tirou de um furacão, ele me tirou desse furacão também”.

BL:O que o seu governo deixou de bom para a cidade que deveria ser aproveitado?

MB:Uma das coisas mais importantes que deveriam ter dado continuidade foi a escola em tempo integral. A saúde está um caos. Não vou dizer o que precisa ser feito porque não quero ensinar a governar. Há um comprometimento do orçamento, com folha de pagamento, desapropriações e dispensa de licitação. Desapropriar a Bem-Te-Vi, por exemplo, por 15 milhões, por exemplo, o quanto poderia ser feito com esse montante? 12 escolas tipo a nova escola de Vila Verde, 20 creches, 30 posto de saúde. E ainda tem mais algumas áreas para desapropriação na cidade. Absurdo maior é desapropriar o campo da SEB, aí vira guerra civil.

BL: Sobre os novos cargos criados nesse governo? Não causará impacto no orçamento?

MB:  É comprometer o orçamento, e para quem conhece bem orçamento, e eu conheço bem, há um grave comprometimento do orçamento. É preciso se pensar em prioridades. Com esses novos cargos vai se gastar  1,7 milhões a mais com pessoal. Se marcar bobeira, não vai dar para pagar o salário do pessoal. Tem tanto subsecretário nesse novo governo que a gente nem conhece.

BL: O senhor acha que Búzios precisa de uma secretaria de ciência e tecnologia?

MB:Não. A secretaria foi criada para atender interesses de membros do PSB de Búzios. Eu tenho falado muito em laranja no meu blog. Eu desconfio que a secretaria de ciência e tecnologia é mais um laranja. Secretara de ciência e tecnologia em Búzios para que? Vou mais além, secretaria de habitação em Búzios para que? Uma subsecretaria bastava. Secretaria de infraestrutura com a mesma função da secretaria de obras. Na verdade esvaziaram a secretaria de obras, colocaram em outra estrutura. Criou-se várias subsecretarias com salários quase iguais aos dos secretários. Eu conheço bastante gente mas até agora não reconheci quase nenhum subsecretario. É bom de vez em quando cobrar o que está fazendo a secretaria de ciências e tecnologia. Quando falo de laranja, não falo só da cor do uniforme, mas do fato de alguém estar no lugar de outra a pedido.

BL: Quando o senhor lê o Boletim Oficial e encontra nomes de candidatos e pessoas muito ligadas à sua campanha, ocupando cargos de confiança no governo, o que lhe passa pela cabeça?

MB: Costumo dizer que criei um couro de jacaré, que não sinto mais essas coisas. Há dez anos atrás talvez eu sentisse hoje não mais. Eu já esperava, porque já fui ex-prefeito, já vi essas coisas. Tem gente que quando você é prefeito anda ao seu lado o tempo todo mas quando você deixa de ser prefeito troca de calçada para não falar contigo. Isso não me entristece, pelo contrário faz com que eu valorize muito mais meus amigos. Eu acabo passando para as pessoas, uma falsa prepotência. Parece que eu sou prepotente. O que não é verdade. Eleito prefeito, no sábado você recebe quinze convites. Para tomar uísque e decidir o destino de Búzios. Eu nunca aceitei e nunca fiz isso. Com isso você acaba arrumando alguns inimigos. Ano passado durante sete semanas seguidas saíram notícias negativas de Búzios no “O Globo”. Aquilo nasceu em uma mansão em Geribá, entre um empresário e algumas peças que hoje estão no governo. Eu já sabia que ia sair, eles não contavam que o garçom que estava servindo uísque para eles me contaria. Garçom criado comigo.  São atitudes que a mim não surpreendem. Você vê isso em todos os lugares, até me setores da mídia que era isso e de repente vira outra coisa. Já estavam como dizia o Brizola, costeando o alambrado.

BL:Para finalizar  a pergunta que todos querem saber a resposta: Daqui a quatro anos o senhor vem candidato a prefeito mais uma vez?

Eu tenho escutado muito essa pergunta e não digo nem que sim nem que não. Agora se você me perguntar qual é a minha vontade, a minha vontade é nãos ser. Mas nesse processo a gente não é muito dono da nossa vontade. Se houver um candidato com a possibilidade de ganhar a eleição, eu estou na campanha dessa pessoa. Uma coisa eu posso garantir, não estou fora do processo político, de uma forma ou de outra eu estou dentro do processo. Deus me deu a oportunidade de ser prefeito por três vezes e ser o primeiro prefeito dessa cidade. Ninguém me tira isso. E aprendi a não dizer nunca, pode ser que a cidade precise. A gente torce para a cidade ficar bem, e torço. Mas com a equipe que está aí, sinceramente somente se o prefeito der um soco na mesa e chute o balde, o que eu acredito que ele não vai fazer. Agora é esperar para ver como as coisas vão se definir.

























Entrevista com Bernard Bourgeois:

O jornal A Raza teve a honra de entrevistar o fotógrafo belga, que mora há dois anos na Raza, Bernard Bourgeois: Junto com sua esposa, a mineira Sandra Penna, nos encontrou com muita simpatia na Padaria Golden Bread no Porto da Barra.

Jornal A Raza: O Senhor é um fotografo reconhecido internacionalmente, ganhador de diversos prêmios, um cidadão do mundo. O que o trouxe ao Brasil e a Búzios?
Bernard Bourgeois: Búzios é vida. Quando decidimos deixar Belo Horizonte, a primeira coisa que minha esposa pensou foi vir morar em Búzios, ela sempre amou Búzios. Viemos e decidimos ficar e estamos aqui há dois anos.

Jornal A Raza: Sentiram muita diferença de Belo Horizonte para Búzios?
Bernard Bourgeois: É bem diferente, Belo Horizonte é uma cidade grande, e Búzios é bem menor. Quando você é um estrangeiro em Belo Horizonte, você é próximo do brasileiro, quando você é um estrangeiro em Búzios, você é um turista traz dinheiro, bem mais difícil de encontrar pessoas e fazer amigos.
Jornal A Raza: Morando em Búzios o senhor se sente como um estrangeiro que está muito longe da sua cultura, ou o fato de outros estrangeiros morarem aqui ameniza essa distância?
Bernard Bourgeois: Sinto-me mais próximo dos brasileiros do que dos estrangeiros, gosto muito mais dos brasileiros, acho que os brasileiros são pessoas muito boas, simpáticas até 33 graus, acima de 33 graus e nas ruas e nas estradas elas deixam de ser simpáticos. (risos)

Jornal A Raza: O que exatamente te fez vir para o Brasil e permanecer?
Bernard Bourgeois: Na minha vida eu viajei muito, a trabalho e a diversão. Sempre gostei de mudar, de deixar a Europa. A Europa pode parecer, vista daqui, um Paraiso.  Mas na verdade é muito difícil para uma pessoa que não é um conformista.

Jornal A Raza: Você tem vontade de retornar para a Europa, ou pretende viver sua vida no Brasil ou em outro país?
Bernard Bourgeois: Eu preciso voltar a Europa três vezes ao ano, porque sou professor. Mas pretendo passar a minha vida com a minha esposa em Búzios.

Jornal A Raza: Você se considera um artista?
Bernard Bourgeois: Na história um artista já foi um artesão, ou melhor, o artesão se tornou um artista. Hoje é um pouco diferente, você tem um artesão fotográfico e você tem um artista fotográfico. Eu sou um artesão, não sou um artista, eu preciso estudar, preciso trabalhar, eu preciso aprender a cada dia as novas técnicas para fazer o melhor do trabalho.

Jornal A Raza: Mas o senhor concorda que suas fotografias tem um diferencial muito grande em relação à produção fotográfica comum?
 Bernard Bourgeois: Eu não tinha percebido isso, até que minha esposa e depois o meu filho disseram que eu faço mais que um fotógrafo comum. Como fotógrafo presto um serviço, um negócio como todas as pessoas daqui.  Posso trabalhar para uma pousada, posso trabalhar para uma lanchonete, um casamento, um book. Penso que é importante fazer o melhor trabalho para as pessoas.

Jornal A Raza: O que o senhor acha hoje do photoshop, o  senhor acha que é um recurso ou um vilão?
Bernard Bourgeois: Sem photoshop hoje não teria como ser fotógrafo.  Fui fotógrafo quando jovem, não existia photoshop e eu ganhei o primeiro prêmio para um concurso muito importante na época. Fiz exposições na Alemanha, na Bélgica, França.  Gosto muito de trabalhar no laboratório, gostaria de fazer como na antiga fotografia. Eu continuei a tirar retratos, porque ganhei uma boa reputação para fazer retratos de pessoas, foi muito importante e depois a fotografia mudou muito. Primeiro foi uma técnica, depois ela foi química e agora se torna eletrônica.   Descobri com o Photoshop uma ferramenta, eu conseguia fazer coisas que eu quis por toda minha vida: desenhar, pintar e que eu não podia fazer porque não tenho esse talento, não tenho “mão”, com o photoshop temos o cérebro e me adaptei bem ao programa.

Jornal A Raza: Chegou a trabalhar como repórter fotográfico?
Bernard Bourgeois: Não. Trabalhei com jornalismo, mas como editor.  Ser fotógrafo e ser repórter fotográfico são coisas diferentes. Eu ganhei um premio importante na França que fica no museu de arquitetura - d’Orsay - em Paris.

 Jornal A Raza: Quem o senhor admira como fotógrafo no Brasil? Bernard Bourgeois: No Brasil Sebastião Salgado, porque no Brasil eu senti que a arte é elitista. A obra dele é muito acessível ao público, é uma arte que faz as pessoas pensarem e ficarem felizes.

Jornal A Raza: Podemos observar em suas fotos atuais que o senhor tem se preocupado em fotografar o cotidiano buziano, o povo.  
Bernard Bourgeois: Sim, eu gosto. Eu recebi um prêmio de amigo do povo de Búzios. Eu tirei uma foto na colônia dos pescadores de um pescador de 83 anos que ganhou a corrida de remo na Festa de São Pedro e dei para o seu filho, esse pai chorou quando recebeu a foto, pois foi o registro de sua vida magnifica.

Jornal A Raza: Gostaríamos de aproveitar agora e entrar na parte do senhor como admirador da poesia, já que sua fotografia tem tanta expressão poética. Sabemos que o senhor gosta de poesias e que tem uma frase interessante em que diz que um homem pode tirar uma foto com o celular, fazer um poema precisa um pouco mais, precisa de cérebro, coração ou barriga.
Bernard Bourgeois: Sim, acho que falei mal no português ( risos). Eu quis dizer que muitas pessoas gostam do que eu escrevo. São amigas como Cristiana Guinle, que vocês conhecem, são pessoas que falam bem dos meus poemas, que são intelectuais. Quando você tem amigos que de verdade são artistas isso me faz pensar, mas eu não procurei isso. Sou amigo do Jaguar também. Algumas pessoas me perguntam; como você é amigo do Jaguar? Tenho muito rede muito boa de amigos. Mas minha esposa é uma grande poetisa. Mas eu não posso escrever em português, é muito difícil, meus poemas são fotográficos.

Jornal A Raza: O senhor é sempre tão modesto?
Bernard Bourgeois: Há um mês recebi mensagens muito estranhas, como se eu fosse um jogador de futebol famoso (Risos). Recebi poema de mulher, poema de homem e frases que minha esposa não gostou, dizendo sobre minhas fotos serem poemas e que transmitem uma mensagem de paz.

Jornal A Raza: O senhor tem alguma exposição de sua obra agendada na cidade?
Bernard Bourgeois: Sim, na próxima semana vamos fazer uma exibição na galeria do Vilmar Madruga – Porto da Barra- será a minha primeira exposição aqui. Vamos fazer uma exposição como artesão e como artista. Com os barcos, as flores e as praias de Búzios.

Jornal A Raza: O senhor disse que vai a Europa três vezes ao ano porque é professor, o senhor leciona que matéria na Europa?
Bernard Bourgeois: Muito diferente do que faço aqui, lá vou falar de comunicação.

Jornal A Raza: O senhor trabalha lá dando aula em faculdade, instituto...
Bernard Bourgeois: Na verdade antes fui professor de direito. Na Bélgica hoje sou professor de um sindicato, para pessoas que vão se tornar dirigentes de sindicato e empresas.

Jornal A Raza:  O senhor falou que tem filhos, são brasileiros?
Bernard Bourgeois: Não, são europeus. Tenho dois filhos, o primeiro vai trabalhar no Peru, em uma ONG, vai coordenar atividades escolares de mil crianças de rua com sua esposa. O segundo tornou-se fotógrafo, vai morar na França e trabalhar lá. Acho que será muito difícil. Manter-se como fotografo não é fácil em qualquer lugar do mundo.

Jornal A Raza: O que você acha dos paparazzi?
Bernard Bourgeois: São vigaristas. Li uma tese em que dizia que o tempo durante a foto da atualidade tem um valor e uma foto de um evento de pessoas tem outro. Porque as pessoas acham que você não trabalhou, posso trabalhar numa foto seis meses e um paparazzi dois minutos, mas as pessoas dão mais valor ao trabalho do paparazzi. É quase impossível de explicar um trabalho importante. Uma foto minha tem um valor, e o material fotográfico custa muito caro, No Brasil tem IPI, e quando você vai vender uma foto você não tem IPI, é quase impossível viver da fotografia, é muito caro.

Jornal A Raza: O que  o senhor acha do Brasil?
Bernard Bourgeois: Um lugar maravilhoso, mas  os brasileiros zombam demais de seus políticos, zombam demais de seu país. Você pode até falar de um problema, pode publicar o problema em um jornal, é muito importante, mas também precisa mostrar a solução. Eu gostaria de ver um Brasil mais orgulhoso de ser brasileiro.

Jornal A Raza: Quais são seus planos para o futuro aqui e no mundo?
Bernard Bourgeois: Tem um problema que você fala muito bem, uma questão do índice de reconhecimento do trabalho, para conseguir se tornar um profissional. Se eu conseguir vou continuar a trabalhar com fotos. Em 15 dias recebi duas propostas de entrevista, um programa de  rádio, e um programa de televisão, uma proposta para ser palestrante. No momento  preciso tornar a minha profissão um negócio, porque precisamos comprar novas maquinas, novos programas, porque a técnica esta mudando, eu gostaria também de trabalhar como professor, mas existe a barreira do idioma.


Um dos trabalhos de Bernard - orla Bardot

Jornal A Raza: O senhor é morador da Raza. Conhece a historia dessa região tão importante da cidade de Búzios?
Bernard Bourgeois: A Raza é o coração de Búzios e as pessoas não sabem. Não sei se eu entendi bem, eu entendi que existe um desejo de emancipação de diferentes bairros, eu entendi que a Maria Joaquina gostaria de se emancipar de Cabo Frio,  porque é um bairro abandonado. Na historia da cidade eu vi que Búzios – inclusive vi em fotos antigas no jornal de vocês- onde diz só Búzios sem Tamoios. É preciso que se descubra rápido como fazer para guardar suas raízes. Sobre isso tenho muito a elogiar o jornal A Raza, na Europa como aqui, as pessoas gostam de jornais que mostrem desgraças, imagino que seja difícil fazer um jornalismo como o que vocês estão fazendo. 


















PADRE RICARDO WHYTE
 ENTREVISTADO DA EDIÇÃO DE JUNHO DE 2012 DO JORNAL A RAZA


Padre Ricardo Whyte quebra o silêncio de quase 20 anos sem falar a um jornal local.  O pároco de Búzios há mais de duas decadas – algo incomum atualmente na Igreja Católica -  nos recebeu em sua sala e respondeu perguntas que muitos gostariam de ter feito a ele.

Jornal A Raza: Quando e como o senhor chegou a Búzios?

Pe. Ricardo Whyte: Eu cheguei a Búzios em Janeiro de 1990. Vim passar férias aqui e fui procurar uma Igreja para celebrar no domingo, porque mesmo estando de férias eu precisava celebrar a missa. A capela estava toda fechada, não tinha padre, não tinha nada, eu achei estranho um lugar desse não ter padre. Eu perguntei quem era responsável pela comunidade Católica de Búzios, então me falaram Cabo Frio, e que o pároco era o Frei Ivo. Eu liguei para ele, disse quem era, que estava de férias e que precisava celebrar uma missa no domingo, se ele me autorizaria. A resposta dele foi ‘o senhor celebre quantas missas quiser’. Quando eu me dei conta, eu estava celebrando três missas no domingo, em plenas férias. Eu percebi a necessidade, e as coisas foram acontecendo. As minhas férias terminaram e eu voltei. Eu pegava na rodoviária o ônibus que vinha para Búzios, as 05:45h , celebrava em Santo Antônio às 10:00h,  na Raza, às 11:00h o Manoelzinho – Sr. Manoelzinho Gonçalves-  me levava em São José, às 18:00h em Sant’Anna, às 20:00h em Santa Rita, quando acabava eu ia embora. Eu fiquei meses assim. Até que eu pedi uma autorização ao meu superior, para fazer um trabalho missionário, de acordo com a necessidade que eu vi aqui, e tinham bastantes padres no convento. Ele perguntou por quanto tempo, eu disse que não sabia e estou aqui até hoje.

Jornal A Raza: A que o senhor atribui o fato de estar aqui até hoje?

Pe. Ricardo Whyte: Por vontade de Deus. Hoje eu olho para trás e vejo que foi vontade de Deus, lá atrás não, parecia uma loucura. Eu vim para cá e fiquei em uma casinha atrás da Igreja, não tinha nem talheres, nem pratos, eu trazia tudo da casa da minha mãe. Não tinha tradição religiosa nenhuma. Eu ficava sozinho aqui, quase abandonado. Uma coisa árdua, muito difícil. Aos poucos a comunidade foi dando suporte, porque sozinho eu não ia conseguir fazer nada. A vida era muito difícil, não existia celular, não tinha telefone, eu não tinha comunicação com ninguém fora de Búzios.

Jornal A Raza: Hoje o anjo localizado em Sant’Anna aparece em várias fotos de propaganda sobre Búzios. Foi o senhor que trouxe esse anjo para a cidade?

Pe. Ricardo Whyte:  A cidade estava fervendo com o processo de emancipação, eu não podia me posicionar publicamente, embora eu fosse à favor. Eu queria colocar símbolos religiosos  que aqui  não tinha, eu coloquei uma cruz na praça em frete a igreja de Santa Rita, que depois tiraram para fazer aquela rotatória, então eu fui comprar o anjo, quando eu fui comprar esse anjo, eu me deparei com essa urna, imediatamente eu me lembrai da história da emancipação. Então eu mandei gravar a palavra sim na urna, pedindo aos céus a emancipação, mas eu não falei nada para ninguém. Quando aconteceu a emancipação, na primeira Missa de Ação de Graças, eu falei sobre essa história e todo mundo foi lá ver o sim que estava escrito, que até então ninguém sabia.

Jornal A Raza: O senhor é um dos principais lideres religiosos da cidade, como pensa a questão política?

Pe. Ricardo Whyte: Eu sempre fui neutro, sempre fui a favor do bem,das coisas que funcionem para a cidade, mas eu nunca quis ter uma participação de me posicionar na  política. A Igreja não tem partido, a palavra partido é separação, ela tem que estar junto a todos, desde que esteja do lado do bem. Quem estiver do lado do bem, a favor da vida, a favor da honestidade. Claro que existe dentro da Igreja uma Pastoral Política que indica o perfil dos candidato.  Candidatos que estejam de acordo com as verdades que a Igreja defende,  a moral, a vida, a política social da igreja, coisas que não são só de interesse católico, mas para todos os homens e mulheres de boa vontade.

Jornal A Raza: Nesse tempo todo que o senhor está aqui -quase o mesmo tempo que o senhor é sacerdote - o senhor já é parte da história da cidade.  Como o senhor vê o crescimento da cidade, tanto ta parte religiosa, quanto da cidade em si mesma?

Pe. Ricardo Whyte: Essa questão da emancipação foi uma característica própria do lugar, embora seja muito próxima uma da outra, é muito diferente de Cabo Frio. Cabo Frio é totalmente diferente. Tudo que precisava aqui tínhamos de ir  para Cabo Frio, não tinha nada, nem médico, nem mercado. Todo mundo ia para Cabo Frio como se fosse ali na esquina, mas aqui tinha uma peculiaridade diferente. Em uma península com 23 praias, um fluxo muito grande de estrangeiros, nós percebíamos claramente que tinha algo diferente aqui em relação a isso, uma identidade própria. Depois, da emancipação para cá, muita coisa mudou, a cidade mudou, porém inchou, eu acho que hoje Búzios não tem estrutura para o fluxo de condomínios abrindo em cada esquina, muita gente de fora vindo para cá. Não tem como transitar, não tem estrutura para aguentar o peso de uma cidade grande como Cabo Frio, que é mais amplo, e geograficamente falando é maior. A questão religiosa, eu não tenho a menor duvida, foi um crescimento muito grande. As capelinhas que tinham aqui, pouquíssimas pessoas iam.  Estou todo esse tempo sozinho, há um desgaste muito grande, é como um carro você chega com um carro 0, você coloca ele na montanha, no buraco, já o carro mais velho, mesmo que você troque as peças, ele continua desgastado.

Jornal A Raza: Há uma brincadeira na Arquidiocese, que os outros padres quando estão há muito tempo em uma paróquia dizem assim ‘Só saio daqui se Padre Ricardo sair de Búzios’, pela quantidade impressionante de tempo que o senhor está na cidade, a que  o senhor atribui isso?

Pe. Ricardo Whyte: Eu não sei. Eu criei raízes aqui de uma forma que eu não sei explicar. Eu não tenho um apego, eu estou aqui servindo, até quando Deus quiser. Eu sinto dentro de mim que a minha missão aqui ainda não terminou, mas se precisar ir para outro lugar não tem problema algum, estou à disposição de Deus e da Igreja.

Jornal A Raza : A capela de Nsa Desatadora dos Nós é um dos grandes atrativos turísticos da cidade hoje. Como essa devoção chegou a Búzios e quais são os planos futuros em relação ao santuário? 

Pe. Ricardo Whyte: A devoção começou há dez anos. A Isis Penido me deu uma novena da Desatadora dos Nós, eu nunca tinha ouvido falar, achei até diferente, peculiar ‘Desatadora dos nós’, eu fiz a novena e consegui a graça, não era nada extraordinário. Então a Isis me perguntou por que eu não colocava um quadro na Igreja, mas a Igreja era a metade do que é hoje, não tinha espaço para colocar.  Lá naquele cantinho  já estava na minha cabeça de colocar uma gruta de Nossa Senhora de Lourdes, como Nossa Senhora é a mesma, não tinha problema nenhum, eu achei que seria uma coisa pequena.  De repente quando eu vi era aquela coisa grande, e realmente foi  um divisor de águas na paróquia. Uma transformação, a paróquia virou de cabeça para baixo, quase que da noite para o dia, começou a vir caravanas, ônibus, vans, não tinha estrutura nenhuma, não tinha banheiro, não tinha terço, não tinha novena. Então foi aquele corre-corre para resolver o problema e graças a Deus conseguimos e até hoje você consegue ver as graças ai, são tantas histórias lindas, eu gostaria de pegar essas histórias para escrever um livro. São histórias fantásticas, mas que as pessoas vêm aqui e falam e vão embora. Existe um projeto, mas para ter um santuário precisa de um lugar. Houve um percalço nessa caminhada e nós estamos aguardando o próximo passo. A partir do momento em que tiver o espaço físico então se torna mais fácil. Nós estamos aguardando o tempo de Deus, porque aqui não cabe mais, é muita gente.

Jornal A Raza :O senhor além de padre é fundador de uma comunidade, como começou e quais são os trabalhos que desenvolvem hoje?

Pe. Ricardo Whyte: Eu entendo como uma missão da parte de Deus, com muita dificuldade. Ser pároco e ser fundador de uma comunidade não é fácil, acaba-se falhando na questão de tempo. Enquanto eu for pároco, a prioridade terá que ser a paróquia, é uma responsabilidade muito grande, agora graças a Deus com o padre Zito aqui, está me aliviando um pouco, eu tenho tido mais tempo para a comunidade. Na comunidade nós temos percebido de uns tempos para cá, muito forte, a devoção à Nossa Senhora. Tivemos agora uma missão na Bocaina, que foi uma coisa impressionante, foram 1.150 pessoas. A Bocaina é um lugar de muito difícil acesso, mas mesmo assim você ver chegando aquela quantidade de pessoas do nada. Eu estou pensando em fazer uma varanda maior, para fazer uma missa ao ar livre, porque na Igreja não cabe mais. Nos Estados Unidos a devoção a Nossa Senhora Desatadora dos Nós tem crescido muito também, é uma braço das missões da Comunidade Lumen de Cristo neste pais.

Jornal A Raza : Gostaríamos  de tocar em questões delicadas pelas quais a Igreja tem de passar nesse terceiro milênio da era cristã: O problema da pedofilia na Igreja arranhou fortemente a imagem da igreja e ainda causa uma má visão de seculares em relação aos padres, o que o senhor teria a dizer?

Pe. Ricardo Whyte: Para começar pedofilia é crime e como crime precisa ser punido. Se for um leigo é crime, é pecado, se for um padre é crime, é pecado e tem um peso maior. Isso existe em qualquer lugar, nós sabemos disso, não deveria existir, mas a miséria humana ela existe em todos os lugares. Isso muitas vezes quando acontece na Igreja, como a Igreja é uma instituição fundada por Cristo e tem um peso muito grande da verdade, então isso ai para os meios de comunicação social é um prato cheio. Realmente, se você machuca o dedo, o corpo todo sente, por exemplo padres que não cometem – e são a maioria- , acabam pagando o preço pelo pecado desses. Na minha opinião o leigo praticante da fé católica,  que conhece a Igreja, que ama a Igreja, ele sabe discernir, embora seja desagradável e constrangedor. Como falou o papa Bento XVI tolerância zero, na minha opinião não adianta transferir o padre, o problema continua, em primeiro lugar precisa tirar da Igreja, em segundo lugar deixar a parte leiga assumir. Cabe a justiça isso, é crime.

Jornal A Raza :Quando os escândalos vieram a tona houve muitos questionamentos em relação ao Celibato do padres. Qual a importância do celibato para a Igreja?

Pe. Ricardo Whyte: Sacerdócio é uma entrega de vida. A gente respira Igreja, fala Igreja, pensa Igreja. Se dedica em horário integral a Igreja. O celibato é um conselho evangélico, que o próprio Jesus colocou ali, quem puder  entender, entenda. Quando eu entrei na vida religiosa eu já sabia das regras, ninguém me obrigou, eu já sabia que era assim, eu aceitei. Nós não podemos reclamar que o celibato é o causador da pedofilia, não é, tem tanto homem casado pedófilo. A questão do celibato é uma dádiva, é um dom, é uma graça de Deus. Não são todos que conseguem. Você tem que cultivar ela também, se eu quero ser casto eu vou ficar acessando site pornográfico, vou ficar de bebedeira com os amigos na esquina, fazendo piada imoral?  Claro que não. Então você tem que cultivar isso também. Temos os exemplos de muitos santos da Igreja, como Santo Agostinho, foi um homem que em sua  vida pregressa foi um homem devasso sexualmente, mas a partir do momento em que ele recebeu a graça, depois que ele entendeu as palavras ditas pelo Apostolo Paulo de que  ‘onde abundou o pecado, superabundou a graça’, sua vida mudou totalmente. O Celibato é um dom que não é para todos.

Jornal A Raza : Em relação as festas tradicionais da cidade como as festas de Santa Rita e Sant’Anna, quando querem atacar de alguma forma  o senhor elas dizem que o senhor acabou com as festas populares e viraram festas pequenas e sem expressão.

Pe. Ricardo Whyte: É a época, antigamente, há 20 anos atrás, não tinha outra opção de festa, as festas católicas eram  as únicas, então tudo se concentrava ali. Não tinha as opções que tem hoje. O tempo muda, as situações mudam.  Hoje são várias festas, tem a de Santa Rita, São José, Santo Antônio, então as pessoas se dividem, não precisa se concentrar na multidão. Alem de haver eventos e festas seculares também.  

Jornal A Raza :O senhor acha que a proibição das bebidas alcoólicas ajudou a diminuir?

Pe. Ricardo Whyte: Peneirou, com a proibição coisa do álcool, a festa de Santa Rita, por exemplo,  virou uma festa de família. Foi melhor para a Igreja, com o álcool vem  também as drogas. Não é que beber seja um ato pecaminoso, a Igreja Católica não pensa assim,  mas  o erro está na forma como você bebe. E a Igreja apoia as iniciativas contra o alcoolismo, é tão conhecida a parceria entre a Igreja e o A.A por exemplo, era incoerente o álcool nas festas da Igreja.

Jornal A Raza :Nos últimos tempos o crescimento das igrejas evangélicas foi muito grande em Búzios, como também no mundo, em especial nos países de 3º mundo e algumas pesquisas tendenciosas ou não mostram a diminuição do número de católicos. O senhor acredita nessas pesquisas? Esses resultados são vistos pelo senhor de forma positiva ou negativa?

Pe. Ricardo Whyte: Eu acho positiva, o verdadeiro católico ele não muda em sua fé, o verdadeiro católico, para você amar você precisa conhecer, ninguém ama ninguém sem conhecer a pessoa. É preciso que você conheça, que você conheça a miséria, os problemas da pessoa, então é preciso que você encontre o verdadeiro valor naquilo ali. As pessoas que saem da Igreja, é por que não a conheceu profundamente. Agora é melhor você ter menos pessoas, mas que sejam realmente assumidas na sua fé, na sua crença, no seu amor pela Igreja do que você ter uma multidão de preceito. Isso na verdade na Igreja é um gráfico, isso já aconteceu antes, é um sobe e desce, faz parte, nós não podemos temer, o próprio Jesus afirmou que  nem as portas do inferno podem se prevalecer contra ela, a Igreja.

Jornal A Raza :Como o senhor encara as criticas que o senhor sofre – por parte de pessoas que geralmente não se identificam- e que algumas vezes até foram publicadas em jornais?

Pe. Ricardo Whyte: São fackes, eu vejo assim, são invenções, a pouco saiu uma mentira em um jornal. Como uma funcionária daqui vai dizer ‘não vai não que o padre está mal-humorado’? É um absurdo, eu não acredito nisso. Mesmo porque não aconteceu isso, então eu fico abismado, um jornal você tem que dizer a verdade, para você ter credibilidade, você precisa ter a verdade. Aquilo não aconteceu, como uma pessoa pode inventar uma história, é um intuito maléfico. Eu vejo a força do mal, eu não tenho medo. Eu não me incomodo de maneira alguma.

Jornal A Raza :Recentemente o presidente americano Barack Obama defendeu o direito ao casamento homo afetivo, no Brasil foi reconhecida a união civil homo afetiva, como a Igreja Católica se posiciona sobre essa questão?

Pe. Ricardo Whyte: Eu acho a natureza perfeita, ela foi criada por Deus, criou homem e mulher, para formar uma família e procriar, ou seja dar continuidade a raça humana fora disso fica uma interrogação no ar. Quanto ao Barack Obama eu acho que ele fez  isso ai por votos, porque seu adversário  esta quase caminhando próximo a ele, e sabe que a comunidade GLS é grande nos Estados Unidos.

Jornal A Raza :O que o senhor pensa sobre o Mangue de Pedra e as recentes manifestações pro e contra?

Pe. Ricardo Whyte: Me parece que esse mangue de pedra só tem três no mundo. Eu acho que a natureza tem que ser preservada, eu não estou por dentro dos meios legais, sei que envolve uma construção próxima. Eu não tenho conhecimento para expressar uma opinião a não se a da Igreja de que se houver realmente algo que vá prejudicar um ecossistema tão frágil se deve optar pela preservação do ecossistema.

Jornal A Raza :O senhor acha importante um legislador católico na câmara?

Pe. Ricardo Whyte: Sim. Acho importantíssimo, como também acho que outras igrejas e instituições devam ter seus representantes também.


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