quarta-feira, 27 de março de 2013

Entrevista com o Vereador Messias Carvalho

O vereador Messias Carvalho em seu gabinete

por Camila Raupp


Blogão dos Lagos: Como o senhor analisa o governo passados quase três meses de gestão?
Messias Carvalho: Ainda não temos como avaliar o prefeito André. André chegou à prefeitura de maneira surpreendente, se gerou em torno dele uma expectativa, entrou falando de mudanças. Mas nós que estamos nesse meio político, percebemos que com ele chegou um grupo que não é novo, que têm remanescentes e que não representou mudança, que é o grupo de Toninho Branco. Existem interesses em segmentos da cidade, como o segmento imobiliário, esse segmento tem uma atividade especulativa, visando à otimização de seus lucros. Isso normalmente não prioriza as necessidades da cidade. Nossa legislação é recente e trata do uso do solo, código ambiental. E todas as mudanças feitas nesses segmentos nunca foram para favorecer essa mão de obra que existe na cidade. Há uma preocupação em torno disso, o governo se apresentou e não podemos ainda ver muita coisa, um governo que por dentro tem essa contribuição de um segmento remanescente de Toninho Branco, e por fora uma pressão de grupos que exercem influências políticas, que nunca se traduziram em benfeitorias para a cidade. Eu vejo o prefeito cercado por dentro e por fora em uma situação muito preocupante.


O brasão da cidade, por exemplo, foi pintado todo de verde e descaracterizando. Isso parece algo pequeno mas, é um atentado à nossa identidade.



Blogão dos Lagos: Há rumores de uma possível liberação de um terceiro andar em Búzios. Como o senhor vê essa questão?
Messias Carvalho: Eu acho que tem que se discutir esse assunto na cidade, já estamos quase completando dez anos de plano diretor e entende-se que está na hora de começar a revisa-lo. Embora eu entenda que esse plano foi aprovado, mas muito pouco executado nesse período de sete anos. As diretrizes apontadas ainda estão em fase de discussão. Fala-se muito em plano de mobilidade urbana, plano de transporte, de sinalização turística, mas tudo isso ainda não saiu da letra da lei. A lei pode até ficar parada, mas a cidade não, então, eu acho que há necessidade de se rediscutir. Envolver a sociedade no processo, de forma participativa, rever as incoerências que muito se tratou na época. Isso engloba o desenvolvimento da cidade, a geração de empregos, o desenvolvimento sustentável, a proteção do meio-ambiente. Mas em termos de construção, para mim a península já esgotou. Há um pressão por moradia, mas discutir terceiro andar em Búzios é muito complicado. O brasão da cidade, por exemplo, foi pintado todo de verde e descaracterizado. Isso parece algo pequeno, mas é um atentado à nossa identidade. Assim também é para com o terceiro andar. A não ser que a sociedade como um todo, tenha esse sentimento de uma mudança radical, aí a cidade quis mudar. Diferente se vier como pressão de um segmento, que tenha interesse nisso, temos que observar e fiscalizar.

Blogão dos Lagos: Os legisladores hoje chegam preparados à Câmara?
Messias Carvalho: Eu acho que o político se conforma muito com aquele sistema que se impõe. O político entra aqui na câmara já afetado pela lógica do sistema. E acaba por não pensar uma transformação disso, para a mudança desse cenário. Como se ele estivesse ali com a visão de defender o seu espaço. E que se mudar e abrir poderá perder espaço. Se detem uma informação e não se tem esse sentimento de coletividade, de construção coletiva, faz-se de um tudo para se dar bem, para se tirar vantagem. Isso se reflete em qualquer setor, não só no meio político. Por isso esse esforço de transparência não deve ser só do político mas de toda a sociedade.

Blogão dos Lagos: Os embates hoje na rede estão mais interessantes do que os da tribuna?
Messias Carvalho: São situações distintas. Os enfrentamentos são positivos, pois oferecem a oportunidade para a sociedade de identificar com mais clareza quem é quem, separar o que é apenas falácia, um discurso que não vem acompanhado de atitudes. Às vezes o discurso é bom, mas a prática não combina com o discurso. Quando se estimula um debate, um enfrentamento, esses fatos vão aparecendo. Nem todos estão atentos, mas para isso aí estão as redes, os blogs, as pessoas que estão acompanhando. Nos debates aqui no legislativo ainda temos que avançar muito. Para que haja mais qualidade nas discussões, elas são na maioria das vezes imediatistas. Na tribuna há um formalismo, existe um limite de tempo, as redes sociais já permitem pensar, construir, voltar no assunto mais de uma vez. Há tempo para buscar mais informações, acrescenta-las. O uso da tribuna ás vezes é afetado pela quantidade de pessoas na assistência, nesse casos o vereador acaba afetado por uma situação ou pela condição criada pela assistência presente naquele dia específico de sessão.  Mas de todo modo, no legislativo, acredito que ainda temos muito que avançar para melhorar a qualidade dos debates.

No último concurso, 10% dos que passaram eram buzianos. Nesse último processo seletivo de 1.300 inscritos para contrato temporário 400 eram buzianos, menos de 30%. No resultado que eu tive em mãos 150 chamados, 91 eram buzianos. De inscritos menos de 30% mas de selecionados mais de 60%.



Blogão dos Lagos: Qual a sua principal característica como legislador?
Messias Carvalho: Aqui na casa costumam me chamar de estudioso, de vereador técnico, por muitas vezes até professoral. Eu não sou isso. Mas sou sim um legislador que procura saber qual é o alcance da sua contribuição para as discussões e eu sempre quero discutir o assunto. Quero esgotar o assunto e passar o máximo que eu puder do que eu busquei de conhecimento acerca daquele tema. Eu quero contribuir para o processo, quero estimular o debate.

Blogão dos Lagos: O senhor foi o único vereador que não votou a moção de repúdio ao secretário de educação? O senhor discorda da moção dada ao secretário?
Messias Carvalho: Existiram os excessos o que acabou por expo-lo como arrogante. Hoje li uma frase passando rapidamente pelas redes sociais, que dizia: “As pessoas estão tão acostumadas com as mentiras que quando se fala a verdade, passa-se por arrogante”. A nossa geração, a minha pelo menos foi afetada por um período em que não se podia falar nada. E por isso as pessoas estão sempre tão ávidas por expressar de tudo um pouco. Quando se defende um pensamento em que se está convicto a cerca disso, fica muito claro quando o secretário de educação diz que não concorda que o chamem de arrogante, mas que ele é sim sarcástico, cínico em suas colocações. E que segundo ele, seria uma maneira de se defender daqueles que o criticam. Não vou entrar no mérito dos excessos que ele cometeu. Mas eu sou vereador do PDT que tem como principal bandeira a educação, eu não tenho dúvida o que ele apresenta como caminhos para a ocupação dos espaços, não há o que criticar. Existe uma realidade na educação que precisamos enfrentar o mais cedo possível, para que os buzianos estejam preparados e comecem a buscar espaço no mercado de trabalho. Seja no setor público, seja no setor privado. O que acontece é que o buziano que se formou nos últimos dois, três anos na Paulo Freire, sem experiência e sem currículo, teve dificuldade por ser um recém-formado. E não é só uma realidade de Búzios. A melhor opção para o recém-formado é sempre o concurso público. A vitória será sempre por mérito. No último concurso público de Búzios, 10% dos que passaram eram buzianos. Nesse último processo seletivo de 1.300 inscritos para contratos temporários 400 eram buzianos, menos de 30%. No resultado que eu tive em mãos, de 150 chamados 91 eram buzianos. De inscritos menos de 30% mas de selecionados mais de 60%.


Blogão dos Lagos: O senhr acha então que nesse caso houve um oportunismo político por parte de alguns?
Messias Carvalho: Essas dificuldades na educação eram esperadas, uma vez que houve uma mudança de governo, um concurso público, escolas novas sem quadro de professor. Houve na verdade uma mudança na condução do processo. E toda mudança gera reações porque havia uma fórmula e essa fórmula foi contrariada. Aqueles que estavam encaixados em uma maneira de fazer foram prejudicados, e gerou a reação.

O uso da tribuna as vezes é afetado pela quantidade de pessoas na assistência, nesse casos o vereador acaba afetado por uma situação ou pela condição criada pela assistência presente naquele dia específico de sessão.  



Blogão dos Lagos: Como foi a eleição para a Presidência da Câmara segundo o seu aspexto  análise.
Messias Carvalho: Faço uma leitura política do processo e não é só desse momento isolado. Mirinho Braga foi eleito com quatro vereadores em 2008, não fez a maioria. Agora nesse contexto, Mirinho fez maioria no palanque e elegeu sete vereadores. Desses sete o PDT não tinha maioria. Dois da coligação PMDB-PSDB e dois da coligação PP-PTdoB. Nós sete sentamos com Mirinho, como da outra vez e se falou sobre esse momento, somos sete, vamos seguir juntos. Não havia como impor ou exigir uma candidatura do PDT já que Mirinho havia perdido e não éramos maioria. Em uma mesa de conversa Lorram disse que era candidato, Felipe e Henrique também disseram. Eu desde sempre disse que não era candidato. E Gugu de Nair também disse que não era. Todos os outros se calaram. Buscou-se um consenso, alguns dizem que Mirinho deveria ter se posicionado, mas ele não fez, somente disse, “Olha vocês tem a faca e o queijo na mão”. Houve um processo aberto. Em um primeiro momento havia o seguinte Henrique já se posicionava como presidente com os votos de Joyce, Gugu e o próprio Leandro. Eu cheguei em um momento em que já havia uma conversa para fazer um fechamento em torno de uma maioria e um nome que representasse a continuidade de um grupo político que queria se recuperar de um revés que foi a  derrota na prefeitura.

Blogão dos Lagos: E como se chegou ao nome de Henrique Gomes?
Messias Carvalho: Henrique não é PDT, mas é um histórico nesse grupo político. Henrique começou no PDT e foi presidente do PDT. Henrique hoje não está no PDT por conta de uma costura política para que não acontecesse o que geralmente acontece em cidades pequenas como Búzios, em que se usam pequenos partidos com menor expressão em barganhas no período eleitoral. Henrique sempre esteve muito afinado com o grupo político. Para mim o nome de Henrique era uma saída em um momento em que o PDT não poderia impor um nome, devido à derrota e por sermos minoria.  E isso poderia quebrar o que estávamos construindo na intenção de nos mantermos os sete, o PDT impor um nome traria desequilíbrio ao grupo. Leandro foi o primeiro a recuar, não deu continuidade ao processo, e a busca de apoio e as articulações começaram a se intensificar. O recuo de Leandro foi o primeiro passo. O nome de Henrique surgiu como forma de mantermos uma linha de proteção à cidade, não uma oposição a qualquer custo, mas um grupo forte e coerente que pudesse parar as ações que viriam de remanescentes de Toninho Branco, mas que desse continuidade ao que fosse importante no governo de André. Seriamos na câmara um ponto de equilíbrio, um ponto de sustentação. Não que apoiaríamos o André, mas teríamos a oportunidade de mostrar à população que somos sim oposição, mas não para pregar o caos, mas buscar soluções. Houve nesse momento um vácuo na liderança política da cidade e na câmara.

Eu sinto falta da participação da sociedade pressionando. Não consigo me conformar com uma sociedade conformada com a representatividade. Temos que entender que estamos em uma época em que a participação é fundamental.



Blogão dos Lagos: Na sua opinião o que motivou a derrota de Mirinho e consequentemente do PDT nas urnas? Como o senhor pretende atuar no seu mandato?
Messias Carvalho: Cometemos erros no nosso governo que contribuíram para nossa derrota. Fato é que erros cometemos e em algumas questões de encaminhamento nosso grupo político errou. Algumas correções de rumos que deveriam ser feitas e não foram e por isso pagamos o preço. A população reagiu e quis essas mudanças. Poderiamos nós, como grupo político termos sido os promotores dessa mudança, enquanto governo, mas não fizemos. A população cobrou isso. Na verdade a população não escolheu André, a população não quis continuar com a gente. O prefeito André pode até surpreender e se tornar uma figura política, mas não tem uma carreira política como tem Mirinho Braga ou Toninho Branco. Até poucos meses antes das eleições não seria ele o candidato. Não estou de volta à câmara para atuar como aquele vereador de oposição intransigente, sistemático, com a intenção única de criar factoides. E tem gente que acha que tem que ser assim. Não concordo com o costume de desgastar o governo até onde se pode, não concordo. Eu fui um vereador de enfrentamentos no governo Toninho Branco, não para me projetar politicamente, mas como bem mostra a história o governo Toninho Branco apontou oito anos de governo Mirinho Braga como caótico e nós vimos que o caos se instalou durante quatro anos no governo Toninho Branco. Depois disso fomos governo e tivemos a oportunidade de corrigir alguns erros, mas não demos esse passo adiante. Eu sou vereador de oposição, tenho um grupo político, e um histórico, mas vou exercer com responsabilidade e com liberdade meu mandato.

Blogão dos Lagos: E qual seria a “receita” para um bom governo em sua opinião?
Messias Carvalho:  Planejamento, saúde, educação, meio-ambiente e turismo são pilares de qualquer governo. As demais secretarias são importantes, mas sem essas fica impossível de se fazer um bom governo. Estou acompanhando o andar dessas secretarias. Acho que são pilares. Todo o restante de um bom governo passa por isso. Como governar sem planejar? E não só para o governo de hoje, mas aponta para todo e qualquer governo que se apresente. Pensar a cidade é olhar para as diretrizes do plano diretor que estão lá apontadas. As intervenções não podem afetar a nossa cidade, principalmente no setor imobiliário. O setor que trás mais riscos à cidade. E que rumos ela tomará. Não se pode governar com o desejo pessoal. O interesse de cada um é se adequar ao que se pensou para a cidade. O turismo que é a nossa indústria que deve ser valorizada e devemos agregar valor á cidade e as questões turísticas. Saúde e educação nem se fala, precisa ser da mais alta qualidade. Tudo precisa estar sintonizado. Já estive com a secretária Alice Passeri, com o José Márcio, com a Dra Luiz na questão da dengue, no hospital seguem críticas que precisam ser acompanhadas. Ainda estamos em fase de ajustamento e é cedo para fazer oposição. Só o tempo dirá se é uma falta de ajustamento ou é proposital. Dr André simboliza a expectativa de mudança. Mirinho voltou ao poder com essa expectativa e não correspondeu o mesmo acontecerá se André não corresponder a essas expectativas.


Blogão dos Lagos: O senhor acha que no fundo o  povo tem pressa demais?
Messias Carvalho: Acho que o povo de certa forma quer pessoas preocupadas, justas, humanas. Como no hospital, as pessoas querem ser bem tratadas, mesmo que por uma infelicidade perca-se alguém, mas esse alguém foi atendido com humanidade. O povo quer se sentir parte. É um processo construtivo. O povo não tem pressa, na verdade ele quer ser parte. Mas eu percebo a sociedade se movimentando e querendo participar. Essa semana participei de uma palestra na Nicomedes que a ONG Ativa Búzios organizou com o coordenador da controladoria geral do Rio de Janeiro sobre a questão do Portal da Transparência, com acesso à informação. Temos que apoiar e fomentar essas questões. Quanto mais participação popular nos processos mais poderemos acertar na construção de um governo cada vez mais participativo.

foto: Agência BL

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