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O vereador Messias Carvalho em seu gabinete |
por Camila Raupp
Blogão dos Lagos: Como o senhor analisa o governo passados quase três
meses de gestão?
Messias Carvalho: Ainda não temos como avaliar o prefeito André. André
chegou à prefeitura de maneira surpreendente, se gerou em torno dele uma
expectativa, entrou falando de mudanças. Mas nós que estamos nesse meio
político, percebemos que com ele chegou um grupo que não é novo, que têm
remanescentes e que não representou mudança, que é o grupo de Toninho Branco.
Existem interesses em segmentos da cidade, como o segmento imobiliário, esse
segmento tem uma atividade especulativa, visando à otimização de seus lucros.
Isso normalmente não prioriza as necessidades da cidade. Nossa legislação é
recente e trata do uso do solo, código ambiental. E todas as mudanças feitas
nesses segmentos nunca foram para favorecer essa mão de obra que existe na
cidade. Há uma preocupação em torno disso, o governo se apresentou e não
podemos ainda ver muita coisa, um governo que por dentro tem essa contribuição
de um segmento remanescente de Toninho Branco, e por fora uma pressão de grupos
que exercem influências políticas, que nunca se traduziram em benfeitorias para
a cidade. Eu vejo o prefeito cercado por dentro e por fora em uma situação
muito preocupante.
O brasão da cidade, por exemplo, foi pintado todo de verde e descaracterizando. Isso parece algo pequeno mas, é um atentado à nossa identidade.
Blogão dos Lagos: Há
rumores de uma possível liberação de um terceiro andar em Búzios. Como o senhor
vê essa questão?
Messias Carvalho: Eu acho que tem que se discutir esse assunto na
cidade, já estamos quase completando dez anos de plano diretor e entende-se que
está na hora de começar a revisa-lo. Embora eu entenda que esse plano foi
aprovado, mas muito pouco executado nesse período de sete anos. As diretrizes
apontadas ainda estão em fase de discussão. Fala-se muito em plano de
mobilidade urbana, plano de transporte, de sinalização turística, mas tudo isso
ainda não saiu da letra da lei. A lei pode até ficar parada, mas a cidade não,
então, eu acho que há necessidade de se rediscutir. Envolver a sociedade no
processo, de forma participativa, rever as incoerências que muito se tratou na
época. Isso engloba o desenvolvimento da cidade, a geração de empregos, o
desenvolvimento sustentável, a proteção do meio-ambiente. Mas em termos de
construção, para mim a península já esgotou. Há um pressão por moradia, mas
discutir terceiro andar em Búzios é muito complicado. O brasão da cidade, por
exemplo, foi pintado todo de verde e descaracterizado. Isso parece algo
pequeno, mas é um atentado à nossa identidade. Assim também é para com o
terceiro andar. A não ser que a sociedade como um todo, tenha esse sentimento
de uma mudança radical, aí a cidade quis mudar. Diferente se vier como pressão
de um segmento, que tenha interesse nisso, temos que observar e fiscalizar.
Blogão dos Lagos: Os legisladores hoje chegam preparados à Câmara?
Messias Carvalho: Eu acho que o político se conforma muito com
aquele sistema que se impõe. O político entra aqui na câmara já afetado pela
lógica do sistema. E acaba por não pensar uma transformação disso, para a
mudança desse cenário. Como se ele estivesse ali com a visão de defender o seu
espaço. E que se mudar e abrir poderá perder espaço. Se detem uma informação e
não se tem esse sentimento de coletividade, de construção coletiva, faz-se de
um tudo para se dar bem, para se tirar vantagem. Isso se reflete em qualquer
setor, não só no meio político. Por isso esse esforço de transparência não deve
ser só do político mas de toda a sociedade.
Blogão dos Lagos: Os embates hoje na rede estão mais interessantes do
que os da tribuna?
Messias Carvalho: São situações distintas. Os enfrentamentos são
positivos, pois oferecem a oportunidade para a sociedade de identificar com
mais clareza quem é quem, separar o que é apenas falácia, um discurso que não
vem acompanhado de atitudes. Às vezes o discurso é bom, mas a prática não
combina com o discurso. Quando se estimula um debate, um enfrentamento, esses
fatos vão aparecendo. Nem todos estão atentos, mas para isso aí estão as redes,
os blogs, as pessoas que estão acompanhando. Nos debates aqui no legislativo
ainda temos que avançar muito. Para que haja mais qualidade nas discussões,
elas são na maioria das vezes imediatistas. Na tribuna há um formalismo, existe
um limite de tempo, as redes sociais já permitem pensar, construir, voltar no assunto
mais de uma vez. Há tempo para buscar mais informações, acrescenta-las. O uso
da tribuna ás vezes é afetado pela quantidade de pessoas na assistência, nesse casos
o vereador acaba afetado por uma situação ou pela condição criada pela
assistência presente naquele dia específico de sessão. Mas de todo modo, no legislativo, acredito que
ainda temos muito que avançar para melhorar a qualidade dos debates.
No último concurso, 10% dos que passaram eram buzianos. Nesse último processo seletivo de 1.300 inscritos para contrato temporário 400 eram buzianos, menos de 30%. No resultado que eu tive em mãos 150 chamados, 91 eram buzianos. De inscritos menos de 30% mas de selecionados mais de 60%.
Blogão dos Lagos: Qual a sua principal característica como legislador?
Messias Carvalho: Aqui na casa costumam me chamar de estudioso, de
vereador técnico, por muitas vezes até professoral. Eu não sou isso. Mas sou
sim um legislador que procura saber qual é o alcance da sua contribuição para
as discussões e eu sempre quero discutir o assunto. Quero esgotar o assunto e
passar o máximo que eu puder do que eu busquei de conhecimento acerca daquele
tema. Eu quero contribuir para o processo, quero estimular o debate.
Blogão dos Lagos: O senhor foi o único vereador que não votou a moção
de repúdio ao secretário de educação? O senhor discorda da moção dada ao
secretário?
Messias Carvalho: Existiram os excessos o que acabou por expo-lo
como arrogante. Hoje li uma frase passando rapidamente pelas redes sociais, que
dizia: “As pessoas estão tão acostumadas com as mentiras que quando se fala a
verdade, passa-se por arrogante”. A nossa geração, a minha pelo menos foi
afetada por um período em que não se podia falar nada. E por isso as pessoas
estão sempre tão ávidas por expressar de tudo um pouco. Quando se defende um
pensamento em que se está convicto a cerca disso, fica muito claro quando o
secretário de educação diz que não concorda que o chamem de arrogante, mas que
ele é sim sarcástico, cínico em suas colocações. E que segundo ele, seria uma
maneira de se defender daqueles que o criticam. Não vou entrar no mérito dos
excessos que ele cometeu. Mas eu sou vereador do PDT que tem como principal
bandeira a educação, eu não tenho dúvida o que ele apresenta como caminhos para
a ocupação dos espaços, não há o que criticar. Existe uma realidade na educação
que precisamos enfrentar o mais cedo possível, para que os buzianos estejam
preparados e comecem a buscar espaço no mercado de trabalho. Seja no setor
público, seja no setor privado. O que acontece é que o buziano que se formou
nos últimos dois, três anos na Paulo Freire, sem experiência e sem currículo,
teve dificuldade por ser um recém-formado. E não é só uma realidade de Búzios.
A melhor opção para o recém-formado é sempre o concurso público. A vitória será
sempre por mérito. No último concurso público de Búzios, 10% dos que passaram
eram buzianos. Nesse último processo seletivo de 1.300 inscritos para contratos
temporários 400 eram buzianos, menos de 30%. No resultado que eu tive em mãos,
de 150 chamados 91 eram buzianos. De inscritos menos de 30% mas de selecionados
mais de 60%.
Blogão dos Lagos: O senhr acha então que nesse caso houve um oportunismo
político por parte de alguns?
Messias Carvalho: Essas dificuldades na educação eram esperadas,
uma vez que houve uma mudança de governo, um concurso público, escolas novas sem
quadro de professor. Houve na verdade uma mudança na condução do processo. E
toda mudança gera reações porque havia uma fórmula e essa fórmula foi
contrariada. Aqueles que estavam encaixados em uma maneira de fazer foram
prejudicados, e gerou a reação.
O uso da tribuna as vezes é afetado pela quantidade de pessoas na assistência, nesse casos o vereador acaba afetado por uma situação ou pela condição criada pela assistência presente naquele dia específico de sessão.
Blogão dos Lagos: Como foi a eleição para a Presidência da Câmara
segundo o seu aspexto análise.
Messias Carvalho: Faço uma leitura política do processo e não é só
desse momento isolado. Mirinho Braga foi eleito com quatro vereadores em 2008,
não fez a maioria. Agora nesse contexto, Mirinho fez maioria no palanque e
elegeu sete vereadores. Desses sete o PDT não tinha maioria. Dois da coligação
PMDB-PSDB e dois da coligação PP-PTdoB. Nós sete sentamos com Mirinho, como da
outra vez e se falou sobre esse momento, somos sete, vamos seguir juntos. Não
havia como impor ou exigir uma candidatura do PDT já que Mirinho havia perdido e
não éramos maioria. Em uma mesa de conversa Lorram disse que era candidato,
Felipe e Henrique também disseram. Eu desde sempre disse que não era candidato.
E Gugu de Nair também disse que não era. Todos os outros se calaram. Buscou-se
um consenso, alguns dizem que Mirinho deveria ter se posicionado, mas ele não
fez, somente disse, “Olha vocês tem a faca e o queijo na mão”. Houve um
processo aberto. Em um primeiro momento havia o seguinte Henrique já se
posicionava como presidente com os votos de Joyce, Gugu e o próprio Leandro. Eu
cheguei em um momento em que já havia uma conversa para fazer um fechamento em
torno de uma maioria e um nome que representasse a continuidade de um grupo
político que queria se recuperar de um revés que foi a derrota na prefeitura.
Blogão dos Lagos: E como se chegou ao nome de Henrique Gomes?
Messias Carvalho: Henrique não é PDT, mas é um histórico nesse
grupo político. Henrique começou no PDT e foi presidente do PDT. Henrique hoje
não está no PDT por conta de uma costura política para que não acontecesse o
que geralmente acontece em cidades pequenas como Búzios, em que se usam
pequenos partidos com menor expressão em barganhas no período eleitoral. Henrique
sempre esteve muito afinado com o grupo político. Para mim o nome de Henrique
era uma saída em um momento em que o PDT não poderia impor um nome, devido à
derrota e por sermos minoria. E isso
poderia quebrar o que estávamos construindo na intenção de nos mantermos os
sete, o PDT impor um nome traria desequilíbrio ao grupo. Leandro foi o primeiro
a recuar, não deu continuidade ao processo, e a busca de apoio e as
articulações começaram a se intensificar. O recuo de Leandro foi o primeiro
passo. O nome de Henrique surgiu como forma de mantermos uma linha de proteção
à cidade, não uma oposição a qualquer custo, mas um grupo forte e coerente que
pudesse parar as ações que viriam de remanescentes de Toninho Branco, mas que
desse continuidade ao que fosse importante no governo de André. Seriamos na
câmara um ponto de equilíbrio, um ponto de sustentação. Não que apoiaríamos o
André, mas teríamos a oportunidade de mostrar à população que somos sim
oposição, mas não para pregar o caos, mas buscar soluções. Houve nesse momento
um vácuo na liderança política da cidade e na câmara.
Eu sinto falta da participação da sociedade pressionando. Não consigo me conformar com uma sociedade conformada com a representatividade. Temos que entender que estamos em uma época em que a participação é fundamental.
Blogão dos Lagos: Na sua opinião o que motivou a derrota de Mirinho e
consequentemente do PDT nas urnas? Como o senhor pretende atuar no seu mandato?
Messias Carvalho: Cometemos erros no nosso governo que contribuíram
para nossa derrota. Fato é que erros cometemos e em algumas questões de
encaminhamento nosso grupo político errou. Algumas correções de rumos que deveriam
ser feitas e não foram e por isso pagamos o preço. A população reagiu e quis
essas mudanças. Poderiamos nós, como grupo político termos sido os promotores
dessa mudança, enquanto governo, mas não fizemos. A população cobrou isso. Na
verdade a população não escolheu André, a população não quis continuar com a
gente. O prefeito André pode até surpreender e se tornar uma figura política,
mas não tem uma carreira política como tem Mirinho Braga ou Toninho Branco. Até
poucos meses antes das eleições não seria ele o candidato. Não estou de volta à
câmara para atuar como aquele vereador de oposição intransigente, sistemático,
com a intenção única de criar factoides. E tem gente que acha que tem que ser
assim. Não concordo com o costume de desgastar o governo até onde se pode, não
concordo. Eu fui um vereador de enfrentamentos no governo Toninho Branco, não
para me projetar politicamente, mas como bem mostra a história o governo Toninho
Branco apontou oito anos de governo Mirinho Braga como caótico e nós vimos que
o caos se instalou durante quatro anos no governo Toninho Branco. Depois disso
fomos governo e tivemos a oportunidade de corrigir alguns erros, mas não demos
esse passo adiante. Eu sou vereador de oposição, tenho um grupo político, e um
histórico, mas vou exercer com responsabilidade e com liberdade meu mandato.
Blogão dos Lagos: E qual seria a “receita” para um bom governo em sua
opinião?
Messias Carvalho: Planejamento,
saúde, educação, meio-ambiente e turismo são pilares de qualquer governo. As
demais secretarias são importantes, mas sem essas fica impossível de se fazer
um bom governo. Estou acompanhando o andar dessas secretarias. Acho que são
pilares. Todo o restante de um bom governo passa por isso. Como governar sem
planejar? E não só para o governo de hoje, mas aponta para todo e qualquer
governo que se apresente. Pensar a cidade é olhar para as diretrizes do plano
diretor que estão lá apontadas. As intervenções não podem afetar a nossa
cidade, principalmente no setor imobiliário. O setor que trás mais riscos à
cidade. E que rumos ela tomará. Não se pode governar com o desejo pessoal. O
interesse de cada um é se adequar ao que se pensou para a cidade. O turismo que
é a nossa indústria que deve ser valorizada e devemos agregar valor á cidade e
as questões turísticas. Saúde e educação nem se fala, precisa ser da mais alta
qualidade. Tudo precisa estar sintonizado. Já estive com a secretária Alice
Passeri, com o José Márcio, com a Dra Luiz na questão da dengue, no hospital
seguem críticas que precisam ser acompanhadas. Ainda estamos em fase de
ajustamento e é cedo para fazer oposição. Só o tempo dirá se é uma falta de
ajustamento ou é proposital. Dr André simboliza a expectativa de mudança.
Mirinho voltou ao poder com essa expectativa e não correspondeu o mesmo
acontecerá se André não corresponder a essas expectativas.
Blogão dos Lagos: O senhor acha que no fundo o povo tem pressa demais?
Messias Carvalho: Acho que o povo de certa forma quer pessoas
preocupadas, justas, humanas. Como no hospital, as pessoas querem ser bem
tratadas, mesmo que por uma infelicidade perca-se alguém, mas esse alguém foi atendido
com humanidade. O povo quer se sentir parte. É um processo construtivo. O povo
não tem pressa, na verdade ele quer ser parte. Mas eu percebo a sociedade se
movimentando e querendo participar. Essa semana participei de uma palestra na
Nicomedes que a ONG Ativa Búzios organizou com o coordenador da controladoria geral
do Rio de Janeiro sobre a questão do Portal da Transparência, com acesso à
informação. Temos que apoiar e fomentar essas questões. Quanto mais
participação popular nos processos mais poderemos acertar na construção de um
governo cada vez mais participativo.
foto: Agência BL