por Camila Raupp
O ex-prefeito Mirinho Braga
recebeu a equipe do Blogão dos Lagos na tarde de segunda-feira (04) em sua
casa, no Parque das Acácias. Descontraído e muito a vontade falou sobre o
quadro político da cidade, o novo governo e sobre seus projetos para o futuro.
Mirinho Braga, ex-prefeito de Búzios recebendo a equipe do Blogão dos Lagos |
Blogão dos Lagos: Passados
mais de noventa dias das eleições, como o senhor vê hoje o cenário político de
Búzios?
Mirinho Braga: Eu
vejo um cenário confuso, na realidade a gente tem um governo confuso. Eu disse
outro dia em uma entrevista em uma TV a cabo em Cabo frio, que esse governo, é
um governo composto pelo pior que tinha no governo Toninho Branco. Está se
projetando um futuro que não é bom para a cidade. Hoje mesmo eu postei em meu
blog uma dispensa de licitação de 6 milhões de reais para limpeza pública. É
esse tipo de coisa que tem acontecido na cidade. É claro que temos que dar um
tempo e eu como todo mundo torço e espero que o governo acerte e trabalhe pela
população de Búzios.
B L: A que o senhor
atribui o insucesso do governo de transição já que logo nas semanas seguintes à
eleição o senhor convocou oficialmente o início do processo de transição?
M B: Falta de preparo, a total falta de preparo. Eles ficaram quase
vinte dias de janeiro sem saber usar a parte de informática, que é o coração ee a
mente da prefeitura. Eles não se interessaram pela transição. Em poucos
setores, e em poucas secretarias houve interesse. Nas secretarias de Educação e
um pouco na secretaria de obras de Genilson, o restante eles não se
interessaram, acharam que iam chegar e fazer de qualquer maneira e dar certo. Não estavam e não estão
preparados, importaram funcionários do governo Zito de Duque de Caxias, vários funcionários de Maricá, de
Saquarema. São pessoas que não conhecem
a cidade. Na verdade eles estão expurgando o buziano. E
quando digo buziano, não estou falando só de quem nasceu aqui, mas os que moram
aqui. Se não mudar, não vai dar certo.
B L: O senhor no fim
do governo chamou os candidatos que passaram no concurso público. Ainda assim, as escolas estão sem professores e
alguns setores sem pessoal. A que o senhor atribui essas questões?
M B: Na realidade
eu não chamei os concursados no final do mandato, eu chamei antes da eleição. O
que houve é que não se respeitou. Não estão respeitando a
chamada do concurso, com o intuito de contratar, existe muita contratação e
quem fez concurso está de fora dessa chamada.
B L: Como o senhor
analisa o quadro da educação hoje em Búzios, com menos de 90 dias de governo já vivendo uma crise?
M B: Essa crise
na educação é uma crise prevista, porque você não pode pegar um
secretário que não conhece a cidade, se colocar ele dentro de Vila Verde e rodar
não consegue sair. E a culpa é dele? Não. A culpa é de quem o indicou e nomeou.
Uma coisa é você ser secretário de uma cidade como o Rio de Janeiro ou Niterói,
outra é ser secretário em Búzios, Arraial, Casimiro de Abreu. Tem que haver o
pessoal. Essa impessoalidade que ele tanto prega não é boa pra ninguém. Nem
para a cidade nem para a educação. Há na realidade uma política, no meu
entender, mal feita. Tenho acompanhado pelas redes sociais, e vejo o secretário e o
governo menosprezarem a mão de obra local. Aqui temos ótimos profissionais,
ótimos professores, temos aqui os melhores profissionais de educação da região.
Não há uma valorização da classe nesse sentido.
B L: A maior
reclamação hoje é da obra na escola Nicomedes. As aulas começaram antes do fim
das obras. E alunos e funcionários reclamam da desorganização. A culpa é de
quem?
M B: A escola
Nicomedes abriu com carteiras velhas, quebradas, começou as aulas sem a obra terminada. A
culpa não é do construtor, o construtor tem até abril para concluir a obra por
contrato. A culpa é de quem dispensou os containners que estavam lá no clube de
Manguinhos. Os alunos estão estudando de forma improvisada, com a escola
ainda em obras. Faltando merendeiras, faltando inspetor de alunos, faltando
professores. Estão brincando com a educação. Se você me perguntar se o secretário
é competente, sim, talvez seja, mas está com uma política de educação errada.
Querendo usar política de cidade grande em Búzios.
BL: Como o senhor vê
as pessoas públicas que tem usado as redes sociais para se manifestar,
inclusive em horário de expediente?
MB: Eu vi algumas
postagens do secretário de educação por exemplo, agredindo o vereador Felipe
Lopes. Falando inverdades. O que não se pode esquecer nunca é que o prefeito, o
vice-prefeito, os vereadores e secretários, são todos funcionários do povo. Não
dá para o homem público ficar ali, perdendo tempo e respondendo em redes
sociais, enquanto há tanto o que fazer pela cidade.
B L: Falando sobre as redes sociais, o senhor fechou sua conta no facebook. Por quê?
M B: Na verdade o facebook virou um lugar para as pessoas tratarem seus problemas pessoais. Querem se tratar psicologicamente no facebook. Você vê cada postagem que assusta. A pessoa briga com o marido, posta no facebook. Eu como pessoa pública não tinha muito como escolher quem você vai ter como amigo ou não. Na realidade eu excluí minha conta depois que deixei de ser prefeito. Até curioso, poderia agora estar aí com o facebook.
BL: Na campanha
última se inaugurou uma agressividade nas mídias sociais. Em especial dos que
faziam oposição ao seu governo. O senhor acha que o governo está preparado para
uma oposição nas mídias sociais ao contrário?
MB: Eles estão provando do próprio veneno. Mas eu te digo que sinto
falta por exemplo, da Ativa Búzios nas redes sociais. Não os vejo mais atuando
junto ao Ministério Público, será que é porque alguns membros da ONG tem cargo
de confiança dentro do governo? É uma pergunta que se deixa no ar. Sinto falta
desse comprometimento que a Ativa Búzios tinha com a cidade. Sinto falta do
compromisso que a Ativa Búzios tinha com a cidade. Acabaram as fiscalizações
nas licitações, nas obras. O ativismo nas redes sociais de uma forma geral
acabou. O ativismo era agressivo, ofendiam membros do governo, agrediam a mim.
Eu tenho processos contra alguns rolando na jstiça. Sinto falta disso. Eu de maneira
nenhuma quero o mesmo comportamento agressivo com o novo governo, mas quero que
continuem fiscalizando. Que sejam coerentes. Dois membros da Ativa Búzios estão
no governo, foram nomeados em BO, será por isso o silêncio?
BL: Como o senhor vê,
sendo hoje um blogueiro, o uso dessas ferramentas alternativas como blog,
facebook, twitter no processo político?
MB: Essas
ferramentas são fundamentais. Ninguém pode fugir hoje da mídia social para
fazer política. É uma ferramenta importante não só para a política mas para
tudo daqui a pouco. É evidente que tem de haver um bom senso de equilibrar.
Como falei antes, o homem público ou candidato não pode estar no facebook respondendo
a tudo. O que temos de fakes na cidade é uma coisa de louco. A pessoa agride e
você nem sabe quem é. Mas é fácil descobrir quem é, o jeito de escrever não muda,
até quem diz que não gosta de fake tem fake.
BL: Existe um consenso
entre o seu grupo sobre esse trabalho nas mídias alternativas?
MB: Há um
consenso natural, de quem se conhece desde muito tempo. Que pensa parecido. A
coisa flui de modo muito natural. As vezes que tenho encontrado com Alan(Câmara), com Carlinhos e outros companheiros, até de Cabo frio, a gente aborda
assuntos. Mas é engraçado, é quase como um time de futebol que joga junto há
muito tempo. Não há reuniões, mas é uma coisa natural. Isso acaba acontecendo
entre vários blogs.
BL: Quais são os seus
planos para o futuro?
MB: O meu plano
para o futuro é descansar um pouco. Evidente que já recebi propostas para ir
para o Rio de Janeiro. Essas propostas me fariam estar a semana toda no Rio, e
eu estou estudando isso. No nível político hoje a minha intenção é ajudar a
reeleição para deputado estadual do meu amigo Janio Mendes. E ajudar os companheiros de partido para deputado
federal, senador, governador, ver o que o partido vai decidir e que caminho
vamos seguir. Dia 22 teremos a convenção nacional do PDT em Brasília, e ali
além da eleição teremos algumas diretrizes do partido. É evidente que eu tenho
a minha opinião, mas não vou externar porque pode ser diferente da maioria do
partido. A única coisa definida nesse momento é a reeleição de Janio e já
adianto em primeira mão 99,9% definida a campanha de Felipe Peixoto para deputado federal, que é um grande amigo de
muitos anos. A gente vai fazer essa dobradinha Felipe e Janio, um para a Alerj
e outro para a Câmara Federal.
BL: O PDT pensa em
lançar candidatura própria à presidência?
MB: Há essa
discussão no partido, em torno do nome de CristóvãoBuarque. Eu sou a favor de uma candidatura própria. Acho que o partido tem
que ter cara, mostrar essa cara. Com o Cristovão como candidato você coloca em
pauta a educação. Se o Cristovão não for o candidato não existe educação em
pauta. Isso é importante para o país. Eu vou dizer algo polêmico, hoje eu não
vejo diferença entre PT e PSDB. Não estou falando do PT de quinze anos atrás, e
sim do PT de hoje. Sinceramente, hoje eu não vejo muita diferença entre eles.
Eu não gostaria de ver o PDT à revoque desses partidos. Mesmo que lançando uma
candidatura seja difícil se eleger. O PT hoje tem 70 milhões de bolsas. É uma
máquina poderosa. Eu não sou contra bolsa, mas sou mais a favor de ensinar a
pescar o peixe. Sou a favor de uma candidatura própria do PDT, sou do diretório
nacional, vou participar, vou votar nessa discussão. Estou há 27 anos no
partido e sempre sigo o que a maioria decidir. Senão acontece como
agora no Rio, o Lindberg quer ser
candidato e o PT não vai deixar. Para ser candidato, ele vai ter que sair do
partido, na minha opinião. Porque a direção do PT no Rio de janeiro está toda
comprometida com a política do governo do SergioCabral. Eu disse isso a ele, conversamos isso esses dias, durante um almoço
aqui em Búzios.
BL: A base do governo
nessas últimas eleições perdeu em várias cidades, e partidos quase sem
expressão, como é o caso do PSC em Búzios, chegaram ao poder. A que o senhor
atribui esse fenômeno?
MB: Eu não
saberia falar de outros municípios, mas vou dizer uma coisa que ainda não disse
a ninguém. Aconteceram coisas não republicanas aqui em Búzios. Mas não posso
falar, nem comentar porque não tenho como provar. Não da para discutir porque
fica parecendo “discurso de perdedor”. E quando eu perdi a eleição a primeira
coisa que eu disse ao meu filho mais novo foi: “É a vontade de Deus”. Mas se formos entrar nessa discussão, ela
sai de Búzios, ela atravessa a região e o país. Um dia isso pode aparecer.
BL: O senhor acredita
no nome André Granado? Ou acredita que é apenas um nome proposto em uma
articulação política?
MB: É na verdade,
uma série de interesses de todo os tipos. Você pega um diário oficial e eu já
citei isso nos serviço de limpeza, mas na saúde há uma série de dispensas de
licitação. Há discussões de cada um ficar com uma fatia, um pedaço. A minha
maior dificuldade nesse terceiro mandato foi bater de frente contra esses
interesses. Tinham alguns vereadores que queriam ficar com pedaços do governo.
Isso é meu, esse é meu aquilo é meu. Eu conversava agora a poucos minutos com o
ex-verador aqui de Búzios, Paulo Pereira
que a maior dificuldade em se governar será sempre essa. A não ser que haja uma
reforma política séria. E quando vemos essa candidatura, sabe-se que não havia
uma articulação em torno do nome André, mas uma articulação para que todos se
desse bem. O que até agora, aparentemente está acontecendo. E dane-se a cidade.
O que se tem de documentos com dois meses de governo é um troço absurdo. E você vê pessoas em jornais afirmando
“investi um milhão e meio na campanha”. Esse mesmo “investidor” da campanha,
antes de investir, me procurou, tenho o nome dele em uma agenda, solicitando
audiência, em 2010. Está lá escrito o nome dele.
BL:Não ter aceitado
esse tipo de investimento pode ter gerado ódio e desejo de vingança?
MB: Sempre gera
porque acaba gerando vingança quando você contraria interesses
financeiros. O dinheiro é a desgraça do mundo. Você contraria interesses, e
atrai para você forças contrárias e se você joga na mesma moeda, se defende,
mas vai estar se igualando. Jamais vou ganhar uma eleição para deixar outra
pessoa mandar no meu lugar. E isso está acontecendo hoje. Pessoas que estavam
impedidas de serem candidatas, que tem problemas na justiça que mandam e
desmandam hoje na prefeitura. E com muita maestria porque não deixam digital.
Não estou dizendo com isso que no meu governo só tinha santos. Existem pessoas
que findada a eleição, eu disse: “Nunca
mais quero essa pessoa perto de mim. Quando digo que Deus me tirou de um
furacão, ele me tirou desse furacão também”.
BL:O que o seu
governo deixou de bom para a cidade que deveria ser aproveitado?
MB:Uma das coisas
mais importantes que deveriam ter dado continuidade foi a escola em tempo
integral. A saúde está um caos. Não vou dizer o que precisa ser feito porque
não quero ensinar a governar. Há um comprometimento do orçamento, com folha de
pagamento, desapropriações e dispensa de licitação. Desapropriar a Bem-Te-Vi,
por exemplo, por 15 milhões, por exemplo, o quanto poderia ser feito com esse
montante? 12 escolas tipo a nova escola de Vila Verde, 20 creches, 30 posto de
saúde. E ainda tem mais algumas áreas para desapropriação na cidade. Absurdo
maior é desapropriar o campo da SEB, aí vira guerra civil.
BL: Sobre os novos
cargos criados nesse governo? Não causará impacto no orçamento?
MB: É comprometer o orçamento, e para quem conhece
bem orçamento, e eu conheço bem, há um grave comprometimento do orçamento. É preciso
se pensar em prioridades. Com esses novos cargos vai se gastar 1,7 milhões a
mais com pessoal. Se marcar bobeira, não vai dar para pagar o salário do
pessoal. Tem tanto subsecretário nesse novo governo que a gente nem conhece.
BL: O senhor acha que
Búzios precisa de uma secretaria de ciência e tecnologia?
MB:Não. A secretaria
foi criada para atender interesses de membros do PSB de Búzios. Eu tenho
falado muito em laranja no meu blog. Eu desconfio que a secretaria de ciência e
tecnologia é mais um laranja. Secretara de ciência e tecnologia em Búzios para
que? Vou mais além, secretaria de habitação em Búzios para que? Uma
subsecretaria bastava. Secretaria de infraestrutura com a mesma função da
secretaria de obras. Na verdade esvaziaram a secretaria de obras, colocaram em
outra estrutura. Criou-se várias subsecretarias com salários quase iguais aos
dos secretários. Eu conheço bastante gente mas até agora não reconheci quase
nenhum subsecretario. É bom de vez em quando cobrar o que está fazendo a
secretaria de ciências e tecnologia. Quando falo de laranja, não falo só da cor
do uniforme, mas do fato de alguém estar no lugar de outra a pedido.
BL: Quando o senhor
lê o Boletim Oficial e encontra nomes de candidatos e pessoas muito ligadas à
sua campanha, ocupando cargos de confiança no governo, o que lhe passa pela
cabeça?
MB: Costumo dizer
que criei um couro de jacaré, que não sinto mais essas coisas. Há dez anos
atrás talvez eu sentisse hoje não mais. Eu já esperava, porque já fui
ex-prefeito, já vi essas coisas. Tem gente que quando você é prefeito anda ao
seu lado o tempo todo mas quando você deixa de ser prefeito troca de calçada
para não falar contigo. Isso não me entristece, pelo contrário faz com que eu
valorize muito mais meus amigos. Eu acabo passando para as pessoas, uma falsa
prepotência. Parece que eu sou prepotente. O que não é verdade. Eleito prefeito, no sábado você recebe quinze convites. Para tomar uísque e
decidir o destino de Búzios. Eu nunca aceitei e nunca fiz isso. Com isso você
acaba arrumando alguns inimigos. Ano passado durante sete semanas seguidas
saíram notícias negativas de Búzios no “O
Globo”. Aquilo nasceu em uma mansão em Geribá, entre um empresário e
algumas peças que hoje estão no governo. Eu já sabia que ia sair, eles não
contavam que o garçom que estava servindo uísque para eles me contaria. Garçom
criado comigo. São atitudes que a mim
não surpreendem. Você vê isso em todos os lugares, até me setores da mídia que
era isso e de repente vira outra coisa. Já estavam como dizia o Brizola, costeando o alambrado.
BL:Para
finalizar a pergunta que todos querem
saber a resposta: Daqui a quatro anos o senhor vem candidato a prefeito mais
uma vez?
Eu tenho escutado muito essa pergunta e não digo nem que sim
nem que não. Agora se você me perguntar qual é a minha vontade, a minha vontade
é nãos ser. Mas nesse processo a gente não é muito dono da nossa vontade. Se
houver um candidato com a possibilidade de ganhar a eleição, eu estou na
campanha dessa pessoa. Uma coisa eu posso garantir, não estou fora do processo
político, de uma forma ou de outra eu estou dentro do processo. Deus me deu a
oportunidade de ser prefeito por três vezes e ser o primeiro prefeito dessa
cidade. Ninguém me tira isso. E aprendi a não dizer nunca, pode ser que a
cidade precise. A gente torce para a cidade ficar bem, e torço. Mas com a
equipe que está aí, sinceramente somente se o prefeito der um soco na mesa e
chute o balde, o que eu acredito que ele não vai fazer. Agora é esperar para
ver como as coisas vão se definir.