Estudantes e pesquisadores coletam material na costa fluminense para o estudo dos peixes-de-bico
Os próximos dias serão de muito trabalho para estudantes e pesquisadores que participam da Campanha Oceanográfica 2012/2013, realizada pelo Grupo de Estudos da Pesca da Universidade Veiga de Almeida (GEPesca/UVA) na costa fluminense. Uma nova etapa para a coleta de ictioplancton (ovos fecundados e larvas) e marcação eletrônica dos peixes-de-bico inicia nesta quinta-feira, 24, com o embarque do aluno do 6° período de Engenharia Ambiental, Yury Coutinho Vieira, na sede do Iate Clube do Rio de Janeiro com destino a Cabo Frio. Durante o deslocamento da embarcação Tarpon, comandada por Marco Ribas, Yury realizará arrastos para a coleta de material em alto mar.
Os cruzeiros científicos seguirão entre os dias 25 de janeiro e 3 de fevereiro, quando ocorre o Cabo Frio Marlin Invitational, importante campeonato de pesca esportiva na zona oceânica cabofriense, promovido pelo Iate Clube do Rio de Janeiro. O professor Eduardo Pimenta, coordenador do GEPesca, destaca a importância da parceria com o Iate Clube para a realização das pesquisas científicas, viabilizando a coleta de material paralelamente ao campeonato. “Durante os próximos dias, teremos a união da ciência, do esporte e do lazer em busca da sustentabilidade”, ressalta o professor Pimenta.
No fim da temporada será realiza uma reunião científica, quando os pesquisadores apresentarão os resultados da temporada 2011/2012. Na ocasião, serão definidas as linhas de ação para o biênio seguinte. Pesquisadores, órgãos financiadores da pesquisa, comandantes das embarcações e membros do Iate Clube participam da reunião.
Pesquisa
A pesquisa realizada no Brasil integra os trabalhos desenvolvidos por uma comunidade internacional para a conservação dos atuns e espécies afins do Oceano Atlântico (ICCAT, sigla em Inglês), com sede na Espanha. No Rio de Janeiro, os trabalhos são supervisionados pelo GEPesca/UVA. Outras universidades e centros de pesquisa credenciados participam da ação em cinco unidades da federação, entre eles, o Instituto de Pesca de São Paulo, cujas pesquisas são coordenadas pelo doutor Alberto Amorim, e a Universidade Rural de Pernambuco, sob a supervisão do doutor Fábio Hazin.
O trabalho, que começa em alto mar com a captura de ovos fecundados e larvas, segue para o laboratório da UVA em Cabo Frio, onde o material passa por uma triagem e é catalogado. Posteriormente, segue para os Estados Unidos, onde é feita a identificação do DNA. Os pesquisadores também fazem a captura de peixes jovens e adultos, que são medidos e recebem uma marcação eletrônica que possibilitará o acompanhamento da rota do animal durante um período pré-estabelecido. No caso dos peixes capturados mortos, os pesquisadores aproveitam para fazer estudos do conteúdo estomacal, da maturação das gônadas, dos parasitas, entre outros.
Hipóteses
O professor Eduardo Pimenta ressalta que o estudo ainda não é conclusivo, mas uma das hipóteses que pode ser comprovada é a de que a costa brasileira, mais especificamente a 150 quilômetros de Cabo Frio, é uma das áreas mais importantes de desova do Atlântico Sul. Ao observar o caminho migratório dos peixes marcados na zona oceânica do Cabo Frio, bem como a análise do DNA de larvas e juvenis, os pesquisadores buscam a validação de outra hipótese, de que a desova ocorrida aqui também abastece a costa africana. Pimenta ressalta que são necessários três anos para a consolidação da pesquisa e o grupo parte para a etapa final de validação dos dados.
Preservação
Todos os países que integram o programa compactuam de um acordo internacional que visa resguardar a exploração do pescado, limitada ao cumprimento da cota estabelecida pela ICCAT, com o objetivo de não esgotar os recursos existentes.
Outro fator importante da pesquisa que está em andamento na costa brasileira é que os dados poderão fomentar a criação de políticas públicas e legislação para a preservação das espécies ameaçadas, além de estimular o desenvolvimento de novas tecnologias que não causem ferimentos fatais nos peixes capturados acidentalmente durante a pesca comercial. Um exemplo é a captura indesejada de peixes-de-bico durante a pesca de espécies de alto valor econômico, como o atum, dourado, cavala e bonito. Com população ameaçada de extinção, a captura do Marlin Azul e do Marlin Branco já é proibida no Brasil e a lista deve ter novas espécies em breve, como o Agulhão Vera.
Além das pesquisas de acompanhamento dos peixes-de-bico, o GEPesca/UVA se dedica às atividades de educação ambiental. O grupo percorre indústrias, pescarias e postos de desembarque para orientar os pescadores a fazer a soltura dos peixes capturados acidentalmente e, caso estejam mortos, encaminhar para laboratórios de pesquisa. Quando um peixe com marcação eletrônica é capturado, os pescadores são orientados a fazer contato com o Grupo de Pesca.