A agência Reuters de notícias anunciou (10/5) em detalhes a intenção do Twitter investir pesado nos jogos da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016 no Brasil. O jornal Folha de S. Paulo, no mesmo dia, publicou uma tradução reduzida e acanhada do original, e não publicou todos os elogios que Adam Bain, gerente de rendas do Twitter, fez aos avanços do nosso país nos últimos anos. Nem detalhou a fundo a estratégia do Twitter para penetrar no marketing nacional e monetizar seus investimentos. A expansão dos smartphones no Brasil é um dos principais atrativos do microblog no país. Além das parcerias com a TV e de sua popularidade entre os brasileiros.
O Twitter vê o Brasil com muito bons olhos e vem trabalhando consistentemente no país não só de olho nos sonhados lucros, mas porque faz parte de sua estratégia de crescimento incluir nosso país através de parcerias com negócios, anunciantes e mídias locais. Temos o terceiro maior universo de usuários do microblog no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. O país que tem uma população que abraçou as redes sociais “com zelo quase religioso”, apesar da estagnação do crescimento econômico de 2012, continua prioritário para os executivos do microblog: “Alguns de nossos acordos mais estratégicos que assinamos com o pessoal do marketing são acordos globais que temos assinado por anos; muitos deles incluem trabalho que eles querem fazer aqui no Brasil durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas”, disse Bain.
O desafio não é tanto explicar aos anunciantes “por que devem incorporar a plataforma do Twitter em suas estratégias de marketing, mas mostrar-lhes como fazê-lo”, explicou Bain. A principal fonte de rendas do Twitter são as postagens pagas que circulam entre os tweets dos usuários.
O microblog vem para a Copa atraído pelo tamanho de nossa população, pela baixa penetração da internet no país, e pela expansão imensa dos smartphones, informou a Reuters. O site do diário O Globo(20/2) confirmou o interesse do microblog em parcerias com fabricantes de smartphones e operadoras de serviços para celulares, para garantir a presença do Twitter em cada celular independente do cliente ter ou não um plano de dados.
“Gente viciada em novela e futebol”
Do ponto de vista da observação sistemática da mídia, o fenômeno mais interessante sem dúvida será a interação entre o Twitter, a TV brasileira e o poder que esta tem sobre o povo brasileiro. O Twitter, experiente em participação de Jogos Olímpicos desde a última Olimpíada em Londres, acabou mal na Inglaterra graças a uma parceria com a NBC. Uma conta de jornalista foi censurada pelo Twitter por pressão da rede americana. O fato já comentado por mim na edição 727 deste Observatório. A Copa do Mundo vai representar uma segunda chance para o microblog testar seu sistema de parceria com emissoras de TV.
Não é só o Brasil que precisa melhorar infraestrutura e tecnologia. O Twitter ficou muito desgastado quando foi mais uma vez invadido no mês passado. A conta da AFP foi arrombada, desta vez por um grupo autodenominado “Exército Eletrônico Sírio” [Syrian Electronic Army], que anunciou que o presidente Obama estava ferido em meio a explosões. A RTP Notícias, de Portugal (24/04) publicou a matéria. O dano provocado pela desinformação foi o equivalente informacional das bombas de Boston. Wall Street tremeu em proporções quase sísmicas. Ninguém garante que o Twitter não vá ter que enfrentar o ciberterrorismo novamente. Vamos nos prevenir para que não aconteça em nosso solo. E o Twitter vai ter que melhorar muito a segurança nos acessos e fazer uma faxina geral em todo o universo de usuários.
O grande problema que tanto o Twitter quanto o Facebook vão enfrentar de imediato é a limitada margem de lucros, avisou o semanário digital AdAge Digital (28/02). De fato, os lucros estarão restringidos ao “ainda jovem mercado de publicidade digital” do Brasil. A força da televisão nos eventos esportivos no Brasil também compete com a mídia social em geral “numa terra de gente viciada em novela e futebol”, comentou o site. De fato, o poder da televisão no Brasil é muito grande dentro do país. Por isso o Twitter, que insiste em dizer que “não é companhia de mídia”, elaborou estratégia para parcerias com a televisão. Eles acreditam que podem fazer muito dinheiro aqui. E estão certos: o Twitter é novo no Brasil e tem muito espaço para crescer numa terra que o adotou com entusiasmo.
Fé na economia
A fala do executivo do Twitter revela uma confiança grande no futuro do Brasil. Adam Bain considera o Brasil “a maior oportunidade que nós vemos na América Latina e francamente entre todos os outros mercados”. Uma afirmação desta não pode escapar aos olhos de um tradutor. O Brasil é crucial para o Twitter em sua estratégia de crescimento. A Folha também deixou de registrar isso. Talvez por falta de espaço editorial. Não houve espaço para muito para aprofundamento e exploração de certos detalhes essenciais da notícia.
A matéria da Folha de S.Paulo não foi bem com sua tradução burocrática da Reuters que não conseguir transmitir ao leitor todo o entusiasmo e a confiança explícita do diretor-geral de receitas do microblog na economia brasileira. O Twitter parece acreditar nela sem receio ou indecisão.
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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor
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