Durante palestra, o pesquisador falou do seu próximo livro
que será lançado em 2013
O historiador norte-americano R. S.
Rose esteve pela primeira vez em Cabo Frio, nesta quarta-feira (24) para
compartilhar suas experiências com um grupo atento de alunos. O evento ocorreu
no auditório principal da Universidade Veiga de Almeida (UVA) e as barreiras da
língua não impediram o professor de incentivar os estudantes, principalmente do
curso de História, a buscar novas respostas para o passado por meio da
exploração e pesquisa dos fatos.
Compartilhando sua própria
experiência, o historiador brasilianista disse que para o pesquisador encontrar
“coisas novas” equivale a achar um tesouro. “A beleza da história é descobrir
que algumas coisas que você acreditou a vida inteira eram falsas”, relatou,
instigando a platéia: “Você acredita em tudo o que lê nos jornais? No que as
autoridades falam?”. Em seguida, relatou que passou 14 meses absorto nas
pesquisas sobre a Era Vargas no Rio de Janeiro, o que resultou, inclusive, no
divórcio da primeira esposa. R. S. Rose foi o primeiro civil a ter acesso aos
arquivos do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e durante a pesquisa
descobriu que Johann Heinrich Amadeus de Graaf, que estava infiltrado no
grupo comunista de Carlos Prestres, na realidade era um agente de serviço
secreto da polícia britânica. As pesquisas, que duraram mais de uma década e
foram realizadas em 14 países, resultaram no livro “Johnny – a vida do
espião que delatou a rebelião comunista de 1935” (Editora Record), que tem como
co-autor o canadense Gordon D. Scott.
“O historiador precisa ter dedicação
quase exclusiva para entender o passado e fazer a sua arte”, ressaltou, dizendo
que pessoas sérias para pesquisar mais a fundo os fatos são essenciais. O
historiador aposta na próxima geração de pesquisadores para esclarecer os fatos
do nosso passado que ainda continuam obscuros. Para desenvolver seu trabalho,
Rose disse ao governo brasileiro que pesquisaria a Era Vargas, quando na
realidade se aprofundava em conhecer melhor tudo o que envolvia tortura,
violência e repressão naquela época. Um pouco dessa descoberta está no livro
“Uma das coisas esquecidas – Getúlio Vargas e controle social no Brasil” (Cia.
das Letras, 2009).
Novidade
O cuiabano Filinto Müller, que foi chefe de Polícia do
governo de Getúlio Vargas entre os anos de 1933 e 1942, é o personagem
principal do próximo livro do historiador norte-americano R. S. Rose. Com o
título “O homem mais perigoso do país”, o lançamento da biografia está previsto
para o início de 2013, pela editora Record. Müller é mais um personagem
encontrado por Rose em suas pesquisas e foi quem descobriu a identidade secreta
de Johnny. Müller carrega a fama de ter sido o responsável pela deportação de
Olga Benário, a companheira de Carlos Prestes, que estava grávida, para a
Alemanha, em 1936. Demitido por Vargas, cinco anos depois Filinto Müller se
tornou senador pelo Mato Grosso e ficou no cargo por quase três décadas, quando
morreu com a esposa em um acidente aéreo (vôo 820/Varig) ocorrido em Paris, em
1973.
Tortura,
queima de arquivo e deportações marcaram a era Vargas, da qual Filinto Müller
foi um dos principais agentes. Impedido de dar mais detalhes sobre a nova obra
por um acordo firmado com a editora, R. S. Rose questionou a plateia: “Vocês
acham que ele foi tão terrível quanto a fama de ‘diabo’ a ele atribuída?”. A
resposta pode estar na próxima obra do escritor.
Finalizando evento, R. S. Rose foi
para o meio do público, onde respondeu a uma série de questionamentos. O historiador
também doou à biblioteca da universidade exemplares das suas obras.
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