Uma sala de aula ao ar livre, sobre o balanço das ondas e ao
sabor do vento. Esta experiência será vivenciada, a partir do dia 20 de
outubro, por um grupo de pesquisadores e estudantes universitários. Eles se
deslocarão a 150 quilômetros da costa fluminense para fazer a marcação
eletrônica de peixes de bicos e coletar ictioplancton. A atividade faz parte
dos trabalhos de uma comunidade internacional de conservação dos atuns e
espécies afins do Oceano Atlântico (ICCAT, sigla em Inglês), com sede na
Espanha.
No Rio de Janeiro, a pesquisa está sendo desenvolvida pelo
Grupo de Estudos da Pesca da Universidade Veiga de Almeida (GEPesca/UVA), sob a
coordenação do professor mestre Eduardo Pimenta. Outras universidades e centros
de pesquisa credenciados participam da ação em cinco unidades da federação. No
litoral fluminense, o apoio do Iate Clube do Rio de Janeiro, que disponibiliza
as embarcações e tripulantes para as viagens, tem sido fundamental. Cada
cruzeiro de pesquisa tem um gasto médio entre 5 e 8 mil reais.
Alto mar
Em alto mar, os pesquisadores fazem cinco arrastos para a
captura de ovos fecundados ou larvas, que são acondicionados em solução de
conservação. No campus da UVA, em Cabo Frio, o material passa por uma triagem e
é catalogado. Posteriormente, segue para os Estados Unidos, onde é feita a
identificação do DNA. Os pesquisadores também fazem a captura de peixes jovens
e adultos, que são medidos e recebem uma marcação eletrônica que possibilitará
o acompanhamento da rota do animal durante um período pré-estabelecido
Intercâmbio científico, maturidade acadêmica e a
possibilidade de publicação de artigos científicos são apontados pelo professor
Pimenta como benefícios para os estudantes que participam dos embarques
oceanográficos. As inscrições para a campanha 2012/2013, que será realizada
entre os meses de outubro e fevereiro, período em que a maioria dos cardumes
passa pela nossa costa, já estão abertas. Serão dez embarques e estudantes dos
cursos de Gestão Ambiental, Engenharia Ambiental e Engenharia da Produção podem
se inscrever. Aproximadamente 15 alunos devem participar da campanha, alguns
realizando a captura em alto mar e os demais fazendo as análises de
laboratório. “É um trabalho duro, porém muito prazeroso”, diz Pimenta, no ramo
há quase duas décadas e apaixonado assumido pela área.
Aluno do 6° período de Engenharia Ambiental, Yury Coutinho
Vieira, participou das edições anteriores e pretende embarcar mais uma vez.
Yury, nascido e criado no município de Arraial do Cabo, conta que sempre foi
muito ligado nas questões do oceano, mas tinha apenas um olhar superficial até
participar da primeira viagem. “Tinha uma visão da pesca e hoje sei que a
atividade é muito mais complexa do que parece. O estudo para a conservação das
espécies é fundamental para garantir que haja o suficiente para as futuras
gerações”, ressalta, acrescentando que pretende se aprofundar na área de
oceanografia ligada à atividade pesqueira. Os primeiros passos Yury já deu,
inclusive já publicou artigo científico sobre o tema em reunião científica em
São Paulo e participou da última edição do Programa de Iniciação Científica, o
PIC/UVA, e já está finalizando um novo projeto para apresentar assim que o
edital for aberto. Desta vez, o foco será a ergonomia e segurança do pescador.
Hipóteses
O professor Eduardo Pimenta ressalta que o estudo ainda não
é conclusivo, mas uma das hipóteses que pode ser comprovada é a de que a costa
brasileira, mais especificamente a 150 quilômetros de Cabo Frio, é uma das
áreas mais importantes de desova do Atlântico Sul. Ao observar o caminho
migratório dos peixes marcados na zona oceânica do Cabo Frio, bem como a
análise do DNA de larvas e juvenis, os pesquisadores buscam a validação de
outra hipótese, de que a desova ocorrida aqui também abastece a costa africana.
Pimenta ressalta que são necessários três anos para a consolidação da pesquisa
e o grupo parte para a etapa final de validação dos dados.
O programa
Todos os países que integram o programa compactuam de um
acordo internacional que visa resguardar a exploração do pescado, limitada ao
cumprimento da cota estabelecida pela ICCAT, com o objetivo de não esgotar os
recursos existentes. Três frentes de trabalho estão no bojo das
atividades: a fiscalização, realização de pesquisa para subsidiar a exploração
sustentável e ações de educação ambiental para a cadeia produtiva
extrativista.
Na costa brasileira, o trabalho ocorre no litoral dos
estados do Rio de Janeiro São Paulo e Espírito Santo, sob a supervisão dos
doutores Fábio Hazin, da ICCAT, e Alberto Amorim, do Instituto de Pesca de São
Paulo. Diversas universidades e centros de pesquisa credenciados participam da
ação, como a Universidade Veiga de Almeida, que responde pelo litoral
fluminense. O trabalho é desenvolvido desde 1994.
Quando o material coletado já foi devidamente identificado,
segue para um laboratório dos Estados Unidos, onde é realizada a investigação
do DNA e, ainda, o acompanhamento, via satélite, da rota migratória, através de
teses de mestrado e de doutorado.
Ameaça
Com população ameaçada de extinção, a captura de algumas
espécies de peixes de bico é proibida no Brasil, como o Marlin Azul e o Marlin
Branco. O Agulhão Vera também deve integrar a lista em breve. De baixo valor
comercial, os peixes de bico são capturados acidentalmente durante a pesca de
espécies valiosas, como o atum, dourado e afins, por meio de anzol e linha ou
do petrecho conhecido como espinhel (que pode ter até mil anzóis).
Além do acompanhamento da espécie, outra atividade
importante realizada pelo GEPesca/UVA é a educação ambiental. O grupo percorre
indústrias, pescarias e postos de desembarque para orientar os pescadores a
fazer a soltura dos peixes capturados acidentalmente e, caso estejam mortos,
encaminhar para a pesquisa. Quando um peixe com marcação é capturado, os
pescadores são orientados a fazer contato com o Grupo de Pesca.
Att,
Andréa Luiza Collet
Assessora de Imprensa
Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio
(22) 2647-5275 ramal 270 / (22) 8836-2439
www.uva.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário