terça-feira, 16 de outubro de 2012

Estudantes e pesquisadores farão a coleta de material na costa fluminense entre os meses de outubro e fevereiro




Uma sala de aula ao ar livre, sobre o balanço das ondas e ao sabor do vento. Esta experiência será vivenciada, a partir do dia 20 de outubro, por um grupo de pesquisadores e estudantes universitários. Eles se deslocarão a 150 quilômetros da costa fluminense para fazer a marcação eletrônica de peixes de bicos e coletar ictioplancton. A atividade faz parte dos trabalhos de uma comunidade internacional de conservação dos atuns e espécies afins do Oceano Atlântico (ICCAT, sigla em Inglês), com sede na Espanha.

No Rio de Janeiro, a pesquisa está sendo desenvolvida pelo Grupo de Estudos da Pesca da Universidade Veiga de Almeida (GEPesca/UVA), sob a coordenação do professor mestre Eduardo Pimenta. Outras universidades e centros de pesquisa credenciados participam da ação em cinco unidades da federação. No litoral fluminense, o apoio do Iate Clube do Rio de Janeiro, que disponibiliza as embarcações e tripulantes para as viagens, tem sido fundamental. Cada cruzeiro de pesquisa tem um gasto médio entre 5 e 8 mil reais.

Alto mar
Em alto mar, os pesquisadores fazem cinco arrastos para a captura de ovos fecundados ou larvas, que são acondicionados em solução de conservação. No campus da UVA, em Cabo Frio, o material passa por uma triagem e é catalogado. Posteriormente, segue para os Estados Unidos, onde é feita a identificação do DNA. Os pesquisadores também fazem a captura de peixes jovens e adultos, que são medidos e recebem uma marcação eletrônica que possibilitará o acompanhamento da rota do animal durante um período pré-estabelecido

Intercâmbio científico, maturidade acadêmica e a possibilidade de publicação de artigos científicos são apontados pelo professor Pimenta como benefícios para os estudantes que participam dos embarques oceanográficos. As inscrições para a campanha 2012/2013, que será realizada entre os meses de outubro e fevereiro, período em que a maioria dos cardumes passa pela nossa costa, já estão abertas. Serão dez embarques e estudantes dos cursos de Gestão Ambiental, Engenharia Ambiental e Engenharia da Produção podem se inscrever. Aproximadamente 15 alunos devem participar da campanha, alguns realizando a captura em alto mar e os demais fazendo as análises de laboratório. “É um trabalho duro, porém muito prazeroso”, diz Pimenta, no ramo há quase duas décadas e apaixonado assumido pela área.

Aluno do 6° período de Engenharia Ambiental, Yury Coutinho Vieira, participou das edições anteriores e pretende embarcar mais uma vez. Yury, nascido e criado no município de Arraial do Cabo, conta que sempre foi muito ligado nas questões do oceano, mas tinha apenas um olhar superficial até participar da primeira viagem. “Tinha uma visão da pesca e hoje sei que a atividade é muito mais complexa do que parece. O estudo para a conservação das espécies é fundamental para garantir que haja o suficiente para as futuras gerações”, ressalta, acrescentando que pretende se aprofundar na área de oceanografia ligada à atividade pesqueira. Os primeiros passos Yury já deu, inclusive já publicou artigo científico sobre o tema em reunião científica em São Paulo e participou da última edição do Programa de Iniciação Científica, o PIC/UVA, e já está finalizando um novo projeto para apresentar assim que o edital for aberto. Desta vez, o foco será a ergonomia e segurança do pescador.

Hipóteses
O professor Eduardo Pimenta ressalta que o estudo ainda não é conclusivo, mas uma das hipóteses que pode ser comprovada é a de que a costa brasileira, mais especificamente a 150 quilômetros de Cabo Frio, é uma das áreas mais importantes de desova do Atlântico Sul. Ao observar o caminho migratório dos peixes marcados na zona oceânica do Cabo Frio, bem como a análise do DNA de larvas e juvenis, os pesquisadores buscam a validação de outra hipótese, de que a desova ocorrida aqui também abastece a costa africana. Pimenta ressalta que são necessários três anos para a consolidação da pesquisa e o grupo parte para a etapa final de validação dos dados.

O programa
Todos os países que integram o programa compactuam de um acordo internacional que visa resguardar a exploração do pescado, limitada ao cumprimento da cota estabelecida pela ICCAT, com o objetivo de não esgotar os recursos existentes. Três  frentes de trabalho estão no bojo das atividades: a fiscalização, realização de pesquisa para subsidiar a exploração sustentável e ações de educação ambiental para a cadeia produtiva extrativista.

Na costa brasileira, o trabalho ocorre no litoral dos estados do Rio de Janeiro São Paulo e Espírito Santo, sob a supervisão dos doutores Fábio Hazin, da ICCAT, e Alberto Amorim, do Instituto de Pesca de São Paulo. Diversas universidades e centros de pesquisa credenciados participam da ação, como a Universidade Veiga de Almeida, que responde pelo litoral fluminense. O trabalho é desenvolvido desde 1994.

Quando o material coletado já foi devidamente identificado, segue para um laboratório dos Estados Unidos, onde é realizada a investigação do DNA e, ainda, o acompanhamento, via satélite, da rota migratória, através de teses de mestrado e de doutorado.

Ameaça
Com população ameaçada de extinção, a captura de algumas espécies de peixes de bico é proibida no Brasil, como o Marlin Azul e o Marlin Branco. O Agulhão Vera também deve integrar a lista em breve. De baixo valor comercial, os peixes de bico são capturados acidentalmente durante a pesca de espécies valiosas, como o atum, dourado e afins, por meio de anzol e linha ou do petrecho conhecido como espinhel (que pode ter até mil anzóis).

Além do acompanhamento da espécie, outra atividade importante realizada pelo GEPesca/UVA é a educação ambiental. O grupo percorre indústrias, pescarias e postos de desembarque para orientar os pescadores a fazer a soltura dos peixes capturados acidentalmente e, caso estejam mortos, encaminhar para a pesquisa. Quando um peixe com marcação é capturado, os pescadores são orientados a fazer contato com o Grupo de Pesca.

Att,
Andréa Luiza Collet
Assessora de Imprensa
Universidade Veiga de Almeida - campus Cabo Frio
(22) 2647-5275 ramal 270 / (22) 8836-2439
www.uva.br


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