Pais, professores, alunos e simpatizantes da APAE de Búzios realizaram na manhã desta quarta feira (19), na frente da prefeitura uma mobilização intitulada Pró-Direito dos Autistas, visando chamar atenção da sociedade para as necessidades de pessoas com este tipo de deficiência.
Realizada simultaneamente pela entidade em todas as cidades onde esta tem um núcleo, a manifestação foi em favor da Lei 1631/11, já aprovada pela câmara e que estava para ser votada ontem no senado federal.
O autismo é considerado um distúrbio crônico, para o qual não existe tratamento padrão. Cada paciente exige acompanhamento individual, de acordo com suas necessidades e deficiências. Alguns podem beneficiar-se com o uso de medicamentos, especialmente quando existem co-morbidades associadas, mas até hoje a enfermidade não conta com tratamento diferenciado por parte do governo federal.
A APAE de Búzios, cuja sede fica localizada em Baia Formosa, assiste hoje a 115 especiais, dos quais nove são autistas. Segundo Lucianete Queiros, coordenadora pedagógica da entidade, é fundamental leis federais para ampará-los, por serem dentre os especiais os que mais tem problemas de adaptação em sociedade.
- É complicado, porque o autista vive num mundo só dele, e precisa de tempo e amor para trazê-lo para o convívio social. Primeiro a gente tem que se apaixonar por ele, conhecê-lo como indivíduo, depois entendê-lo, e só então tentar ajudá-lo em sua necessidade - explicou.
Na opinião de Elicinei Duarte de Souza, mãe do autista Arthur, de cinco anos, com a aprovação da lei serão criados mecanismos de comportamento da sociedade para facilitar a vida dos pais em hospitais, bancos e em outros locais de aglomerações, onde as pessoas não entendem as diferentes reações que alguns expressam em estados de fadiga no seu dia a dia.
- A maioria das pessoas não entende que eles têm uma deficiência. Cada autista expressa a sua insatisfação de um jeito. Tem uns que gritam, outros beliscam pessoas ou se batem no chão, e eles são taxados de birrentos e mal-educados. Esse movimento nosso visa não só a aprovação da lei, mas conscientizar as pessoas para que facilitem a vida deles. Temos uma Apae em Búzios que apesar de ter dificuldades como qualquer organização, funciona. Eu agradeço a eles por estarem nos apoiando - disse ela.
Denise Martins e José Luiz Vieira, pais do autista Renato, de 18 anos, também expressaram a necessidade da aprovação da lei, principalmente, para abrir o leque da pesquisa sobre a doença no Brasil. Psicopedagogo, ele teve que largar o trabalho no estado, para se dedicar ao filho. Segundo disse o maior problema é não ter atendimento e remédios específicos para autistas nos hospitais, mesmo nos particulares, já que não existem dados clínicos sobre a doença no país, sendo muitos tratados com medicamentos para esquizofrenia.
A mãe Denise, hoje uma ativista em defesa da causa, enquanto distribuía panfletos aos motoristas declarou que graças ao apoio dos profissionais da APAE, Renato tem se socializado bem, a ponto de hoje estar integrando a Oficina de Circo da prefeitura, com apresentações marcadas para dezembro, na Praça Santos Dumont. O próprio Renato comentou sua descoberta como artista circense:
- Gosto muito de vir a Apae todo dia, de jogar futebol e tomar banho de piscina. Já até ganhei medalhas. Mas o que mais estou gostando é estou me dando bem é no show do circo – disse.
O papel fundamental da Apae
A presidente da Apae de Búzios, Ângela Barroso, observou que com a aprovação da lei, os pais de autistas poderão receber benefício financeiro do governo federal, e merecer tratamento diferenciado nos locais públicos.
Segundo informou a entidade, criada em 1996, na época com seis alunos, possui hoje 115 assistidos, sendo mantida por verba federal, estadual e municipal. Mas a maior parte do sustento da entidade, destacou, vem do repasse da prefeitura, que cobre o pagamento dos 20 funcionários, além das despesas com alimentação, gasolina e mecânica de dois veículos que buscam e devolvem os alunos em casa todos os dias.
- Desde que assinamos convênio em 2004 com o governo municipal, as coisas melhoraram muito. Inclusive eles nos dão a liberdade de escolher os profissionais capacitados que precisamos, o que é muito bom – comentou.
Ela informou ainda que hoje a Apae possui uma sede modelo com salas específicas, onde funcionam várias oficinas, duas piscinas (uma delas pré-aquecida que conseguiu com a Petrobrás para hidroterapia; e a outra olímpica, utilizada para fisioterapia e também onde são treinados os atletas especiais, muitos dos quais já são medalhistas), e uma sala adaptada para bebês, a partir de um mês de idade, que recebem tratamento de estimulação precoce.
- Quanto mais cedo tratarmos uma criança especial melhor. A estimulação precoce é como uma janela aberta que abrimos, através da qual eles vão enxergar o mundo no futuro. É o primeiro passo que tem que ser dado para a cidadania dessas crianças - diz a Lívia Povoas, responsável por este tipo de tratamento.
Entre os manifestantes em favor da causa dos autistas, promovido pela entidade nesta quarta feira, estava o jovem também especial Ezequiel Carvalho, que além de paraplégico, tem dificuldade na fala, mas fez questão de declarar:
- Eu sou um autodefensor da APAE. Estas mães e professoras Deus escolheu a dedo, porque sabia que podia contar com elas. Os meus amigos autistas também precisam ser reconhecidos como especiais. Achei o movimento muito legal! – conclui.
Foto: Sergio Quissak
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