Berço da boemia carioca.
Por Luciano Moojen Chaves
Morei sim na Lapa. Década de 70. Era um perigoso subúrbio do
Centro do Rio.
Grana curta. Plena ditadura militar. Foi muito bom!
Relato agora histórias que vivi e que escutei.
Que escutei...: Nas décadas de 50 e 60, quem comandava a
Lapa era o Madame Satã. Mulato capoeirista de quase dois metros de altura. Gay
assumido. Brigão. Soube que na bordoada, colocou quatro policiais em nocaute.
Usava navalha na ponta de seu sapato. Matou muitos desafetos. Escolhia na marra
seus parceiros de sexo: “Vai morrer ou vai me comer?”. Foi preso e morreu de
tuberculose no extinto Presídio da Ilha Grande.
Que vivi...: Fomos morar na Lapa, em Rua do Resende. Lembro
bem das “boates” da Rua Mendes Sá. Eu
bem jovem frequentava sim. Pagávamos pela morena no balcão. Saíamos e
entrávamos em sobrado ao lado. O ranger das escadas de madeira não sai de
minh’alma até hoje. No segundo andar, salão dividido em cubículos com sórdidas
camas. Peguei Sarna, Chato, Gonorreia...
Versão carioca de música da africana Mirian Makeba fazia sucesso...: “Tá
com pulga ou tá com chato, Neocid é o barato”. Quanto à Gonorreia, dolorida
injeção de Benzetacil de ‘um milhão e duzentas mil’, dava jeito.
E a Xepa??? Fiz sim. Feira Livre na rua em que morávamos.
Havia a pobre e a chique. A pobre era catar sobras de alimentos no chão. Na
chique íamos fazer compras quando a feira estava terminando. Uma da tarde.
Feirantes não querendo levar mercadorias perecíveis pra casa... Bolsas cheias
por moedas...
Papai arranjou um apartamento na Avenida Nossa Senhora de
Copacabana. Seu Atelier. Que na verdade
era uma ‘garcionere’. Certa vez ligou pra casa. Atendi. E ele...: “Verifique se
sua Mãe não esta na extensão”. Falei que não. “Estou bebendo vinho com duas
lindas mulatas. Vem pra cá agora”. Fui... Daí peguei o vício por Copacabana.
Onde vivi por décadas. Conheço como poucos este maravilhoso bairro.
E o bom samba afirma: “Na Lapa de hoje. Na Lapa de outrora.
Que revivemos agora!”.
Excelente crônica! Não é de hoje que acompanho o grande cronista que é Luciano e que tem, quase sempre, nas peripécias de personagens bem brasileiros, seu tema predileto. São personagens sobretudo cariocas, da "nata da malandragem", de que falava Chico Buarque. Queremos mais, Luciano. Já pra máquina de escrever! Digo, já pro computador!
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